A Coreia do Norte realizou nesta terça-feira uma série de disparos contra uma ilha sul-coreana, num dos mais pesados bombardeios contra a Coreia do Sul desde o final da Guerra da Coreia, em 1953.
Dois soldados sul-coreanos morreram e 17 ficaram feridos. O ataque também deixou três civis feridos e dezenas de casas em chamas.
O presidente sul-coreano, Lee Myung-bak, que adota uma posição linha-dura contra a reclusa Coreia do Norte desde sua posse, há quase três anos, prometeu uma reação firme ao ataque contra a ilha de Yeonpyeong, que fica apenas 120 quilômetros a oeste de Seul.
As duas Coreias ainda estão tecnicamente em guerra - o conflito de 1950 a 53 terminou apenas com uma trégua, e não com um tratado de paz -, e a tensão se agravou neste ano, depois de o Sul acusar o Norte de torpedear uma embarcação militar, matando 46 marinheiros.
"Casas e montanhas estão em chamas, e as pessoas estão sendo removidas. Não dá para ver muito bem por causa das colunas de fumaça", disse uma testemunha na ilha à TV sul-coreana YTN. De acordo com outra testemunha, o bombardeio durou cerca de uma hora, e parou repentinamente.
A YTN disse que pelo menos 200 projéteis norte-coreanos atingiram Yeonpyeong, que fica na costa oeste da península, a cerca de três quilômetros de um trecho disputado de fronteira marítima. A maioria dos projéteis caiu numa base militar sul-coreana da ilha.
Os militares sul-coreanos revidaram os disparos e enviaram um caça à região. Não há informações sobre vítimas do lado norte-coreano.
O confronto derrubou a cotação do won sul-coreano nos mercados externos. O valor da moeda no mercado futuro para um mês teve queda de cerca de 4 por cento no pregão NDF. Títulos do Tesouro dos EUA com vencimento em dez anos subiram, enquanto o iene japonês caiu.
O Banco Central sul-coreano convocou uma reunião de emergência para avaliar o impacto do incidente sobre os mercados.
O ataque ocorre num momento em que um enviado dos EUA está viajando pela região após revelações de que o Norte está se preparando para enriquecer urânio, o que pode ser um segundo caminho para a produção de armas nucleares - as armas que o regime comunista já fabrica são de plutônio.
A Coreia do Norte diz desejar a retomada das negociações multilaterais para o seu desarmamento, abandonadas há dois anos. Mas os EUA e a Coreia do Sul dizem que o Norte precisa começar a cumprir promessas anteriores de restringir seu programa nuclear, como pré-requisito para receber benefícios econômicos e políticos.
"É inacreditável", disse Zhu Feng, professor de relações internacionais da Universidade de Pequim. "É uma provocação imprudente. Eles querem fazer barulho e forçar as negociações a serem retomadas a seu favor. É o mais antigo dos truques."
A miserável Coreia do Norte, país de regime comunista, depende fortemente do apoio econômico e diplomático da China, e seu líder, Kim Jong-il, já esteve duas vezes na China neste ano, em parte buscando aval à indicação de seu filho caçula como eventual sucessor.
As relações entre os dois países acabam causando atritos entre a China e os EUA, após relatos de que a Coreia do Norte parece ter dado passos importantes rumo ao enriquecimento de urânio, possivelmente usando uma tecnologia que se originou ou pelo menos passou pela China.