Homem usando máscara passa pela Ópera Real Sueca, em Estocolmo, 27 de abril. A Suécia vai pedir à UE uma investigação sobre a origem do novo coronavírus, potencialmente aumentando a tensão nas relações entre o país nórdico e a China| Foto: Fredrik SANDBERG / TT News Agency / AFP
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A Suécia pretende pedir à União Europeia uma investigação internacional sobre as origens da pandemia do novo coronavírus, que já infectou mais de 3,3 milhões e matou mais de 240 mil pessoas em todo o mundo. A decisão pode aumentar as tensões nas relações entre o país nórdico e a China, que já estão desgastadas.

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"Quando a situação global da Covid-19 estiver sob controle, é razoável e importante que seja realizada uma investigação internacional independente para obter conhecimento sobre a origem e a disseminação do coronavírus", escreveu Lena Hallengren, ministra da Saúde da Suécia, ao parlamento na quarta-feira.

"Também é importante que a maneira como toda a comunidade internacional lidou com a pandemia de Covid-19, incluindo a Organização Mundial da Saúde, seja investigada. A Suécia ficará feliz em levantar essa questão dentro da organização sobre a cooperação da UE", completou a ministra.

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Outros líderes globais também defendem uma investigação sobre as origens da pandemia, como o presidente americano Donald Trump, o primeiro-ministro australiano Scott Morrison e a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.

As declarações do governo sueco ocorrem após uma série de incidentes diplomáticos que têm deteriorado as relações entre Suécia e China.

Gotemburgo, a segunda maior cidade sueca, cancelou na semana passada o acordo de cidades irmãs que tinha com Shanghai, assinado há 34 anos. Várias outras cidades suecas também decidiram encerrar suas relações de cidades irmãs com cidades chinesas.

O prefeito de Gotemburgo, Axel Josefson, disse à Rádio Suécia que as trocas entre as duas cidades "têm sido mínimas" nos últimos dois a três anos. "E considerando os tempos em que estamos vivendo, não achamos adequado estender o contrato de cidades irmãs", disse, segundo a imprensa local.

Recentemente, a Suécia decidiu fechar todos os Institutos Confucius que funcionavam no país. Os institutos são parte de um programa financiado pelo governo da China que estabelece centros culturais e de idiomas em universidades estrangeiras e que sofrem críticas por casos de censura de temas considerados sensíveis por Pequim. Além, disso, esses institutos são vistos como parte da máquina de propaganda chinesa.

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O diretor do programa para a Ásia do Instituto da Suécia para Relações Internacionais, Björn Jerden, disse ao The Times que o fechamento indicava um postura mais dura da Suécia em relação à China. "A opinião pública sobre a China se tornou muito mais negativa na Suécia", disse.

Prisão controversa

Não é de hoje que as relações entre Estocolmo e Pequim estão tensas. E a maneira como a China tem tratado a Suécia, com intimidação e ameaças quando o país nórdico se recusou a atender às suas exigências, é um indicador de como a potência asiática lida com nações menores e menos poderosas.

Um dos principais pontos de disputa é a prisão por autoridades chinesas de um cidadão sueco nascido na China, Gui Minhai.

Gui morava em Hong Kong e publicava livros críticos ao governo chinês. Ele foi capturado por autoridades chinesas em 2015 e ficou detido sem julgamento por anos. Em fevereiro deste ano, um tribunal da China anunciou que Gui havia renunciado a sua cidadania sueca, supostamente de forma voluntária, e que foi condenado a dez anos de prisão. Ele foi considerado culpado por "ilegalmente oferecer informações de inteligência" a estrangeiros.

A organização PEN na Suécia anunciou em novembro do ano passado que concederia o prêmio Tucholsky a Gui Minhai, escolhido por causa de seu "trabalho incansável por liberdade de expressão", segundo a organização. O prêmio é entregue anualmente a escritores perseguidos ou em exílio.

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As reações chinesas não demoraram. O embaixador da China na Suécia, Gui Congyou (que não tem relação com Gui Minhai), disse após o anúncio do prêmio ao cidadão sueco: "Tratamos nossos amigos com bons vinhos. Mas para nossos inimigos, temos metralhadoras".

Em seguida, a embaixada chinesa em Estocolmo se manifestou com um comunicado afirmando que a decisão de premiar Gui era "não apenas uma farsa, mas também uma zombaria da genuína liberdade de expressão", com origem em "uma agenda política oculta e em consistentes preconceitos e hostilidades contra a China".

A embaixada disse ainda que Gui Minhai é um criminoso que cometeu graves delitos na China e na Suécia, e fez ameaças à organização do prêmio: "Os produtores dessa farsa ignoram a vontade do próprio Gui Minhai e agem de acordo com o seu pensamento ilusório, presunção e arrogância. Eles sofrerão as consequências de suas próprias ações".

O primeiro-ministro da Suécia, Stefan Lofven, rejeitou as declarações da China. "Não vamos ceder a esse tipo de ameaça", disse em entrevista à televisão na ocasião, noticiou o The Guardian.

Após a cerimônia, a embaixada chinesa afirmou que o evento de premiação foi um erro grave que causará sérias dificuldades para as trocas amistosas e a cooperação normal entre China e Suécia. Mais tarde, em 4 de dezembro, o embaixador participou de um seminário e, Gotemburgo e disse que ninguém pode prejudicar os interesses da China e ao mesmo tempo colher benefícios econômicos no país. Ele enfatizou que as relações comerciais e econômicas entre os dois países seriam afetadas, relatou o The Diplomat.

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Em janeiro, o embaixador Gui Congyou deu uma entrevista em que pareceu ameaçar jornalistas suecos que criticassem Pequim. Durante a entrevista, ele questionou a cobertura do governo chinês na imprensa sueca e acusou os jornalistas de "criticar, acusar e difamar" a China.

Gui Congyou comparou a relação entre os jornalistas suecos e o governo chinês a um boxeador de 45 quilos desafiando um boxeador de 90 quilos para uma luta.

As críticas da embaixada chinesa em Estocolmo e do embaixador Gui Congyou contra jornalistas e outras figuras públicas na Suécia são tão frequentes que o embaixador já foi convocado pelo Ministério das Relações Exteriores sueco mais de 40 vezes em dois anos, segundo a The Economist.