Na segunda-feira (16), o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, reconheceu que é provável que a realidade do coronavírus se estenda por meses, até “julho e agosto”. O chefe de Estado chegou a reconhecer, inclusive, que o país pode estar entrando em recessão, mas afirmou também que “o mercado pode se cuidar, é forte e vai resistir ao vírus”. Já o diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas, Anthony Fauci, disse que “o pior ainda está por vir”.
Apesar da inicial negação a respeito da gravidade da situação por parte de Trump, os EUA já tomaram uma série de medidas para conter a propagação da Covid-19. Já são mais de 3 mil casos confirmados da doença e 70 mortos no país. Na sexta-feira (13), Trump declarou emergência nacional por conta da epidemia. A medida torna possível a destinação de até US$ 50 bilhões para auxílio no combate e controle da pandemia.
O presidente pediu para que os americanos evitem bares, restaurantes, viagens e diminuam a circulação no transporte público, além de reuniões com mais de dez pessoas. As orientações valem também para quem está saudável. Segundo o governo dos EUA, há um grupo grande que está assintomático para o vírus, mas que pode espalhar a doença.
O governo dos EUA suspendeu os voos procedentes de 26 país da Europa, além da Irlanda e do Reino Unido, que ficaram de fora num primeiro momento. A medida tem validade inicial de 30 dias e cidadãos norte-americanos e residentes permanentes dos EUA terão permissão para retornar ao país. Já a companhia American Airlines cortou 75% dos voos, incluindo todas as viagens para o Brasil até 6 de maio.
Corte de juros e liberação de recursos
Outra medida tomada pelo governo dos EUA para tentar conter a epidemia do coronavírus foi o corte dos juros da faixa de 0% a 0,25% pelo Federal Reserve, o Fed, espécie de Banco Central norte-americano. A decisão foi anunciada no domingo (15) após uma reunião extraordinária
“Os efeitos do coronavírus irão pesar na atividade econômica no curto prazo e representar riscos para as perspectivas econômicas", afirmou a instituição financeira. “O surto de coronavírus prejudicou comunidades e interrompeu a atividade econômica em muitos países, incluindo os Estados Unidos. As condições financeiras globais também foram significativamente afetadas. Os dados econômicos disponíveis mostram que a economia dos Estados Unidos entrou neste período desafiador em uma base sólida”.
Ainda, durante a madrugada de sábado (14), a Câmara dos Representantes do país aprovou, por 363 votos contra 40, um pacote de auxílios para cidadãos que estejam sofrendo devido à pandemia de coronavírus, tanto física quanto financeira e emocionalmente. Com apoio declarado de Trump, o projeto segue agora para o Senado do país. A proposta inclui testes gratuitos para a doença, licença familiar e pagamento para trabalhadores que se ausentarem do trabalho.
O pacote aprovado no sábado vem para complementar os US$ 8,3 bilhões autorizados por Trump no dia 6 de março para o combate ao coronavírus.
Toque de recolher
Para Trump, ainda não é caso de determinar um toque de recolher no país. O presidente não descartou, contudo, que a medida seja aplicada em regiões mais críticas, onde a infecção está mais disseminada.
Em São Francisco, na chamada Bay Area do Norte da Califórnia, as autoridades pediram para que todas as pessoas permaneçam em casa, exceto para comprar medicamentos e mantimentos e para ir a consultas médicas de urgência. Serviços essenciais devem permanecer abertos. Além disso, as fronteiras da região vão ficar fechadas até 7 de abril. Cerca de 7 milhões de residentes serão afetados pela medida.
Bares e restaurantes de Los Angeles vão ser fechados por, pelo menos, duas semanas. No estado de Illinois, a medida vai se estender até 30 de março. O mesmo deve ocorrer em cassinos e hotéis de Las Vegas.
O estado de Nova York é o principal foco da doença nos EUA. São mais de 700 casos registrados e três mortes. A maior preocupação do governador Andrew Cuomo é a capacidade hospitalar da região, já que cerca de 80% dos 3 mil leitos de UTI do estado se encontram ocupados. Já na cidade de Nova York, o prefeito Bill de Blasio definiu que bares e restaurantes da cidade estão proibidos de receber pedidos para delivery. Teatros e boates devem permanecer fechados a partir desta terça-feira (17). As escolas da cidade foram fechadas e a previsão é de que assim permaneçam até 20 de abril.
Vacina
Testes de uma vacina contra o novo coronavírus foram iniciados nesta segunda-feira (16) nos Estados Unidos. Segundo fontes do governo do país, um grupo de 45 pessoas saudáveis, com idade entre 18 e 55 anos, estavam aptas para receber doses diferentes de uma vacina elaborada pela empresa americana Moderna Inc, que não foi testada em animais antes.
A vacina não pode causar a Covid-19, porque ela não contém o vírus, mas sim um código genético inofensivo copiado do vírus que causa a doença. O objetivo é verificar se as vacinas não mostram efeitos colaterais preocupantes, preparando o terreno para testes maiores.
Sistema de saúde
Autoridades locais estão preocupadas com a prontidão do sistema de saúde pública do país. Segundo levantamento da OCDE, o número de leitos em hospitais americanos, em relação à população, é menor do que na Itália, por exemplo, onde há relatos de que profissionais de saúde estão tendo que escolher os pacientes a quem darão prioridade no tratamento de coronavírus devido à falta de estrutura e equipamentos nos hospitais.
De acordo com um relatório de Eric Toner e Richard Waldhorn, pesquisadores do Centro Universitário Johns Hopkins para Segurança da Saúde, em um cenário de epidemia moderado nos Estados Unidos, onde cerca de 3 milhões de pessoas sejam infectadas, 200 mil precisariam ser internadas em unidades de tratamento intensivo. Os pesquisadores, porém, afirmam que nos EUA existem apenas 46.500 leitos de UTI e que, mesmo considerando que os pacientes não ficarão doentes ao mesmo tempo, o descompasso entre demanda e disponibilidade é claro.
O número de respiradores, equipamentos que dão assistência respiratória mecânica aos pacientes, também preocupa equipes médicas. Eles são necessários nos casos mais grave da Covid-19. Os hospitais dos EUA, de acordo com estudo da Universidade John Hopkins, têm um total de 160.000 respiradores - 62.000 completos e 98.000 mais básicos que podem ser usados em situações de emergência. Acredita-se que existam mais 20 mil respiradores adicionais em estoque.
Na sexta-feira passada, Seema Verma, chefe do Medicare na gestão Trump, disse que governo aumentaria as compras de respiradores, mas evitou responder a uma pergunta sobre se os hospitais americanos teriam equipamentos suficientes durante a epidemia de coronavírus no país.
Anthony Fauci, chefe do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas, admitiu: "acredito que, se tivermos um surto grave, estamos definitivamente vulneráveis à escassez [de respiradores]", disse ele na quarta-feira passada.