É raro que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, lide mal com uma questão de comunicação. Desde os primeiros debates da eleição presidencial de 2016 ficou claro que ele é muito melhor em se comunicar com a sociedade norte-americana do que o político republicano médio. Além disso, é um mestre da mídia. A imprensa progressista jamais admitiria isso, mas o presidente é o melhor comunicador político do nosso tempo. E é por isso que sua postura em relação ao novo coronavírus é tão surpreendente.
Ao tratar da doença, Trump tem sido confiante como sempre. Sua discussão se concentra em dois pontos: o governo está fazendo um ótimo trabalho e o vírus pode não ser tão perigoso quanto as pessoas pensam. A confiança do presidente é, geralmente, uma de suas maiores armas. As pessoas esperam isso de um líder. Com o coronavírus, entretanto, há problemas nas mensagens passadas por Trump.
Primeiramente, trata-se de uma doença passível apenas de controle marginal. Podemos tomar medidas que busquem minimizar seus impactos, acelerar pesquisas sobre vacinas e preparar o sistema de saúde para enfrentá-la. Mas não podemos controlar fundamentalmente a doença, e não sabemos exatamente que caminho ela tomará. Não conseguimos, por exemplo, controlar de que forma a doença vai reagir ao tempo quente ou como ela evolui.
Tranquilizar a população é bom, mas passar a mensagem de que “tudo vai ficar bem” é perigoso quando todos os fatos ainda não estão controlados.
Em segundo lugar, o governo dos EUA costuma se sair mal em operações de grande escala envolvendo cenários catastróficos. Como vimos após desastres naturais como o furacão Katrina, fornecer ajuda e serviços em larga escala não é o forte do governo. O exército dos Estados Unidos se sai muito bem em operações estritamente militares, mas, por razões legais, são avessos ao uso de tropas para operações civis em solo americano.
Já foi possível observar falhas do governo federal quanto ao coronavírus. Os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) passaram muito tempo desenvolvendo um kit de testes para a doença que não funcionou corretamente. Ainda, o Departamento de Estado, sob objeção do CDC, transportou, de volta aos Estados Unidos, 14 pessoas infectadas em um cruzeiro num avião com passageiros não infectados a bordo. Também houve reclamações de que o do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos EUA enviou funcionários sem equipamentos de proteção ou treinamento adequado para atender pacientes que retornavam da China.
Respostas de Trump
Em resposta a alguns desses problemas iniciais, Trump nomeou o vice-presidente, Mike Pence, para supervisionar o combate ao coronavírus no país. Isso deve ajudar, mas também confere mais risco político ao presidente. Se a resposta for problemática, os problemas vão ficar, agora, sob responsabilidade do vice-presidente, afinal.
Geralmente, operações como essa são realizadas por agências específicas ligadas ao Gabinete do Presidente, com mão-de-obra especializada e experiência suficiente para lidar com as situações que lhes cabem. O vice-presidente e sua pequena equipe podem ficar facilmente sobrecarregados. E se houver problemas de gestão, será politicamente difícil para Trump trocar seu próprio vice como chefe da força-tarefa.
Se o coronavírus chegar às costas (Leste e Oeste) do país de forma limitada e sem causar muitos danos ao nosso sustento e à nossa economia, tudo ficará bem. O presidente sairá como gênio. Caso contrário, pode haver um grande problema político. E se essa crise for muito grave, nosso país, polarizado, conseguirá se unir para combater um desastre em larga escala? Infelizmente, isso não parece provável com base no que foi visto até agora. Os oponentes políticos do presidente e seus aliados na imprensa estão preparados para culpá-lo por tudo o que puderem.
Recentemente, Trump falou sobre os esforços de seus oponentes para prejudicá-lo politicamente por conta do coronavírus. Em um sinal do quão polarizados nos tornamos, alguns democratas e veículos da imprensa acusaram o presidente de dizer que o vírus em si era uma farsa. Qualquer análise justa dos comentários de Trump mostra que isso é um absurdo. E as ações do presidente até o momento - restrições de viagem, quarentenas, solicitações de gastos emergenciais e a nomeação de seu próprio vice-presidente para liderar a força-tarefa de combate à doença - mostram a seriedade com a qual ele está tratando a situação. Mas a distorção de suas palavras prova o quão potencialmente perigosa é essa questão para Trump.
Dada a situação, o melhor caminho para o presidente é mostrar ao povo americano que ele está tratando o coronavírus com a maior seriedade e gerenciando o governo para minimizar o avanço do surto. Dizer aos americanos que nosso governo está se saindo incrivelmente bem e que tudo ficará bem, entretanto, parece imprudente.
* Neil Patel trabalhou como consultor do vice-presidente da gestão George W. Bush, Dick Cheney.
©2020 The Daily Signal. Publicado com permissão. Original em inglês.