O presidente do Equador, Rafael Correa, anunciou nesta quinta-feira que renunciará, se a oposição, mesmo que o ratifique no cargo, obtiver a maioria na Assembléia que reformará a Constituição, ao descartar uma trégua prévia às votações de 30 de setembro.
O líder socialista condicionou sua permanência no cargo a uma única opção: conseguir o controle da Assembléia de plenos poderes, que além de mudar a Carta Política, poderá, segundo ele, dissolver as funções do Estado.
"Se a oposição ganhar, eu sairia do cargo, de qualquer maneira, porque a única coisa pior do que não ter uma Assembléia Constituinte, seria ter uma Assembléia dirigida" pelos detratores, disse ele ao canal TC.
Correa já havia anunciado que colocaria o cargo à disposição dos 130 constituintes, mas é a primeira vez que cogita sua renúncia, mesmo que as forças contrárias ao governo lhe peçam para se manter no cargo até 2011.
"Prefiro ir para casa, apresentar minha renúncia" a ter uma maioria opositora, enfatizou o presidente, de 44 anos, que governa com a popularidade em sentido descendente, segundo uma pesquisa Cedatos-Gallup, registrando 56% em agosto, após alcançar um pico de 76% em abril.
Para Alexei Páez, cientista político da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso), Correa apostou "com uma única carta sua continuidade no poder", prevendo que uma "Assembléia de orientação contrária não lhe permitirá levar adiante seu plano de reformas".
O presidente "jogou uma carta muito séria, do tudo ou nada. É uma aposta que delineia uma situação extrema, mas ao tempo uma alternativa para este país tão instável. Não seria viável que Correa continuasse no poder sem mudar as estruturas de poder das quais desconfia", disse à AFP.
O chefe de Estado defende uma nova Constituição de corte socialista que reforce o papel do Estado na economia, reduza os poderes do Congresso, democratize os meios de comunicação e despolitize tribunais.
Se os outros ganharem, "isso quer dizer que nossas teses não convenceram (o eleitorado), que não nos quer mais no governo, e vamos com a consciência muito tranqüila para nossas casas, onde sou muito feliz", frisou Correa.
O presidente descartou qualquer aproximação com a oposição antes das eleições, ressaltando que apenas uma vitória pode equiparar as forças com os grupos de poder, a direita, os banqueiros e a imprensa.
"Ganhamos essa Assembléia, alteramos a correlação de forças e, no dia seguinte, nós nos sentamos para conversar. Somos pessoas de diálogo e de consenso, não somos ingênuos. Nesse momento, não haveria acordo sem humildade", acrescentou.
Correa pôs mais dramaticidade na eleição de 30 de setembro, retornando ao discurso do "tudo ou nada" que lhe permitiu ganhar a presidência e conseguir a aprovação, por maioria, do órgão que reformará o texto constitucional.
Duro crítico da imprensa, o presidente voltou a conceder entrevistas diante da investida midiática da oposição, que o acusa de fazer proselitismo com os recursos públicos, violando a lei eleitoral.
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