O presidente Rafael Correa retomou ontem o controle do Equador, reafirmou ter sido alvo de tentativa de golpe e de assassinato e prometeu "profunda depuração na Polícia Nacional". Ele foi resgatado sob tiros na noite de quinta-feira de hospital onde ficou 12 horas sitiado por rebeldes. De acordo com o governo, o episódio acabou com oito mortos. Reinstalado no palácio de governo isolado por cordão militar , Correa anunciou que vai destituir os policiais que lideraram a onda de protestos pelo país e que não pretende retroceder nas medidas que levaram à revolta.O presidente garantiu que não vai haver "perdão nem esquecimento" a "golpistas".
O chefe da Polícia Nacional do Equador, Freddy Martínez, assumiu a responsabilidade pelos protestos, embora não os tenha apoiado. "Um comandante a quem é dispensada tamanha falta de respeito por seus subordinados não pode continuar no cargo", disse Martínez, que assegurou que a situação estava se normalizando ontem.
Especula-se que Correa, em dificuldade política, lance ofensiva para capitalizar a suposta tentativa de golpe e destitua a Assembleia Nacional. Isso lhe permitiria governar mediante decreto até a realização de um novo pleito presidencial e legislativo.
A manobra, que está prevista na Constituição com o nome de "morte cruzada", precisaria, porém, ser aprovada pela Corte de Justiça.
Sem relaxar
O chanceler equatoriano, Ricardo Patiño, afirmou que ainda não se pode "cantar vitória total". "Superamos a situação por agora, mas nós ainda não podemos relaxar."
Ainda sob estado de exceção, o país também voltava à normalidade, mas escolas e o comércio seguiam fechados.
Os protestos tiveram início na manhã de ontem, horas depois da retificação pela Assembleia Nacional de uma lei que retira benefícios dos policiais. Os rebeldes tiveram o apoio de alguns militares.
Durante o dia, tomaram os principais aeroportos, quartéis e a própria Assembleia, atearam fogo a pneus, montaram barricadas nas ruas das principais cidades locais e interromperam estradas.
Ao tentar dialogar com um grupo de manifestantes, Correa foi alvejado por bombas de gás lacrimogêneo e uma garrafa dágua, sendo então levado para o hospital.
Correa, que desafiou seus algozes a que o matassem, voltaria ao palácio apenas à noite.
Segundo o balanço oficial, ao menos cinco pessoas morreram e outras quase 200 terminaram feridas. A Justiça anunciou investigação sobre a suposta tentativa de golpe.
Telefonema
Lula condena "tentativa de golpe"
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva condenou veementemente ontem o que chamou de tentativa de golpe no Equador. "Esse tipo de tentativa de derrubar presidente eleito não é correto, a polícia jogar bomba em presidente é menos correto ainda", disse Lula a jornalistas após participar de um evento em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo.
"Não existe no mundo ninguém que concorde com golpe. Os golpistas do Equador já devem estar arrependidos da burrice que fizeram", acrescentou o presidente.
Ainda ontem, os países da Unasul (União das Nações Sul-Americanas) anunciaram que adotarão medidas como fechamento de fronteiras e suspensão do comércio com o Equador caso grupos rebeldes insistam na tentativa de golpe de Estado contra o presidente Rafael Correa.
A ameaça foi divulgada ao final da reunião extraordinária de chefes de Estado e representantes de governo da Unasul que aconteceu em Buenos Aires.
Os países afirmam ser necessário que os responsáveis pela tentativa de golpe "sejam julgados e condenados". E advertem que não vão tolerar "qualquer novo desafio à autoridade institucional nem tentativa de golpe ao poder civil legitimamente eleito."
Os países decidiram ainda enviar seus chanceleres a Quito, para expressar respaldo ao presidente equatoriano. O secretário-geral do Ministério de Relações Exteriores, embaixador Antônio Patriota, deve representar o chanceler Celso Amorim.