Não bastassem as tragédias diárias em solo ucraniano desde a invasão russa, há quase um ano, o país também segue sendo devastado pela corrupção, historicamente um dos calos da política do país.
De acordo com meios de comunicação nacionais, o Ministério de Defesa ucraniano teria chegado a um acordo em preços “duas a três vezes mais altos” para os alimentos básicos destinados aos seus soldados. Além disso, o vice-ministro de Desenvolvimento das Comunidades, Territórios e Infraestrutura da Ucrânia teria recebido o equivalente a mais de R$ 2 bilhões para facilitar a realização de contratos para a compra de equipamentos e geradores a preços inflacionados.
Sobre o primeiro caso em investigação, o ministro da Defesa, Oleksiï Reznikov, foi chamado pela Justiça para esclarecer sobre o assunto. A pasta negou, no domingo (22), ter feito contratos a preços inflacionado, rejeitando qualquer acusação de corrupção.
“Essas notícias são divulgadas com a intenção de manipular deliberadamente”, declarou o Ministério da Defesa, que indicou “estar preparando documentos” para abrir uma investigação sobre a “divulgação” dessas informações “enganosas” que “prejudicam os interesses da defesa do país durante um período importante". O ministério ainda destacou ter um “princípio de tolerância zero em relação à corrupção”.
No mesmo dia, foi feito o pedido de demissão do vice-ministro de Desenvolvimento das Comunidades, Territórios e Infraestrutura da Ucrânia, Vasyo Lozynkiï, no cargo desde 2020, segundo declarou o primeiro-ministro do país, Denys Shmygal, no Telegram. A denúncia da propina bilionária para facilitar contratos foi feita pela Agência Nacional Anticorrupção da Ucrânia (NABU).
O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, disse no domingo que a corrupção, problema crônico do país deixado em segundo plano pela guerra contra a Rússia, não seria tolerada e prometeu decisões importantes para erradicá-la ainda nesta semana.
"Quero que fique claro: não haverá retorno ao que costumava ser no passado, ao modo como viviam várias pessoas próximas a instituições estatais ou aquelas que passaram a vida inteira correndo atrás de uma cadeira", disse Zelensky.
Corrupção no país
A Ucrânia tem uma longa história de corrupção desenfreada e governança instável, com a Transparência Internacional classificando a corrupção do país na 122ª posição entre 180 países (quanto mais próximo da 180ª posição, mais corrupto o país — os melhores colocados são Finlândia, Nova Zelândia e Dinamarca, enquanto o pior é o Sudão do Sul).
Outras organizações mundiais também declaram haver marcas de corrupção no aparelho político e econômico do país, assim como nos serviços de segurança e no sistema judicial. No final de 2020, foi o Tribunal Constitucional do país derrubou uma reforma legislativa anti-corrupção, pondo em risco a assistência econômica ao país vinda da União Europeia e do Fundo Monetário Internacional.
Em julho do ano passado, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, exortou a Ucrânia a acelerar as suas reformas contra a corrupção, assegurando ao país o apoio do bloco no “longo caminho” para a adesão à União Europeia. O combate à corrupção é uma das maiores fragilidades da Ucrânia nesse processo. O país invadido pela Rússia tentou acelerar a entrada no grupo desde o início do conflito.
Ursula saudou a aprovação de uma lei pela Ucrânia destinada a desfazer a "influência excessiva dos oligarcas na economia", mas exigiu que o país agora garanta sua "implementação de maneira legalmente sólida".
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