A Corte Internacional de Justiça, instância jurídica suprema da ONU, afirmou ontem que o Kosovo não violou nenhuma lei internacional ao se declarar independente da Sérvia em 2008.
Apesar de não ter caráter impositivo, a decisão deve ajudar Kosovo a receber reconhecimento internacional e, por outro lado, incentivar outras regiões conflituosas a declarar independência.
Após o pronunciamento da corte, milhares de manifestantes foram às ruas de Pristina festejar com bandeiras kosovares e dos Estados Unidos.
Até agora, 69 dos 192 países membros das Nações Unidas reconheceram a independência kosovar entre eles, EUA, Alemanha, França e Reino Unido. É necessário o reconhecimento de ao menos cem para um país fazer parte da ONU.
Nações com sérios problemas internos de separatistas como Rússia (Chechênia) e China (Tibete e Taiwan) sempre se colocaram contra. Temem agora ondas de declarações unilaterais de independência.
Mesmo na Europa Ocidental há uma resistência importante: a da Espanha, país que tenta controlar movimentos separatistas na Catalunha e no País Basco. Em dezembro, convidado a participar de um fórum promovido pela CIJ, o governo espanhol afirmou que uma decisão favorável a Kosovo abriria "um precedente perigoso" a movimentos separatistas espalhados pelo mundo.
A região que esteve no centro da mais sangrenta batalha na Europa desde a Segunda Guerra. Era parte da Iugoslávia, que se desintegrou com conflitos étnicos e religiosos após a morte do ditador Josip Broz Tito (1980).
De maioria albanesa e muçulmana, Kosovo ficou como parte da Sérvia (ortodoxa). Houve novos conflitos até que a Otan bombardeou a Sérvia por 78 dias, pondo fim à "limpeza étnica promovida por Slobodan Milosevic.
Ficou como protetorado da ONU até a declaração de independência, em 2008.
A secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, disse que é hora de os dois lados cooperarem. O impasse deve atrasar ainda mais a entrada dos sérvios na União Europeia e retardar investimentos em Kosovo, uma das regiões mais pobres da Europa.
Brasil
O Itamaraty diz que a decisão da corte da ONU não muda a posição do Brasil de não reconhecer a independência de Kosovo. A avaliação é de que o pronunciamento tem natureza apenas consultiva.
Além disso, avalia que, apesar de considerar que a declaração de independência obedeceu a legislação internacional, a decisão não significa que Kosovo tenha direito legítimo a ela.