Uma Corte de Paris postergou o histórico julgamento no qual o ex-presidente francês Jacques Chirac é acusado de corrupção, suspendendo o processo até junho, após acatar uma queixa de um dos advogados de defesa. A decisão representa uma reviravolta inesperada em um caso que demorou anos até chegar à corte e que ameaça expor as entranhas da política francesa em um momento em que o país se prepara para uma campanha presidencial do próximo ano. Chirac é o primeiro líder francês a ser julgado desde a época da II Guerra Mundial.
O julgamento, que começou segunda-feira, tem como alvo o período em que Chirac foi prefeito de Paris, entre 1977 e 1995, antes de ele se tornar presidente.
Excepcionalmente, duas investigações distintas foram combinadas em um mesmo processo, ambas tendo como foco as acusações de que ele se apropriou indevidamente de dinheiro da cidade para benefício de seu partido político conservador, o extinto Rasemblement pour la Republique (RPR). Chirac, em sucessivas ocasiões, negou qualquer delito.
Um advogado de um outro réu no caso de Chirac alegou que uma denúncia importante no processo foi feita há muito tempo para merecer um julgamento hoje, e que não foi constitucional combinar os dois casos em um único julgamento.
O juiz Dominique Pauthe determinou, nesta terça-feira, a suspensão do julgamento até 20 de junho, e pediu para a mais alta instância jurídica da França, a Corte de Cassação, para que considere a apelação. A Corte de Cassação tem a opção de enviar o caso para o Conselho Constitucional, que julga a constitucionalidade das leis francesas. "Jacques Chirac vai, mais uma vez, escapar da Justiça", disse Jerome Karsenti, advogado de uma associação de combate à corrupção.
Chirac não compareceu ao primeiro dia de julgamento na segunda-feira. Ele permaneceu em seu escritório, onde não conversou com jornalistas.
O processo refere-se à criação de 28 postos na Prefeitura de Paris entre 1992 e 1995. Os cargos eram ocupados por pessoas que trabalhavam, de fato, para o partido de Chirac. A outra acusação - de conflito de interesses - foi aberta por um promotor de Nanterre, e teria relação a cargos usados para lavagem de dinheiro. As informações são da Associated Press.
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