Milhares de tunisianos se reuniram ontem, em Túnis, para participar do cortejo fúnebre de Chokri Belaid, um líder da oposição tunisiana assassinado na quarta-feira. O crime deu início a uma onda de protestos e elevou os temores de que o país, que foi berço da chamada Primavera Árabe, em 2011, volte a mergulhar em violência e instabilidade política.
Uma multidão acompanhou o trajeto do caixão, ornado com uma bandeira da Tunísia, num caminhão aberto. Manifestantes e cartazes encheram as ruas. "Belaid, descanse em paz, continuaremos o esforço", afirmavam os simpatizantes do oposicionista.
Para marcar a data, a oposição e as centrais sindicais do país também convocaram uma greve geral para ontem.
Centenas de policiais acompanharam a movimentação no centro da capital tunisiana. Parte do comércio teve de ser fechada. Os ônibus continuaram circulando. A Tunis Air suspendeu todos os voos, enquanto a EgyptAir cancelou dois com destino a Túnis. Voos de outras companhias aéreas não foram afetados.
Na cidade de Sidi Bouzid, cerca de 10 mil pessoas se reuniram para homenagear Belaid e protestar contra o governo.
Na tentativa de conter a reação à morte de Belaid, na quarta, o premiê Hamid Jebali anunciou a dissolução do governo e a formação de um gabinete emergencial de tecnocratas antes da convocação de eleições. Porém, o partido dele, o Ennahda, rejeitou as medidas (leia mais nesta página).
Cerca de 50 deputados opositores anunciaram na quinta-feira que suspendiam temporariamente sua representação e se retiravam da sessão extraordinária que estava em andamento pela Assembleia Nacional Constituinte, convocada para discutir a crise suscitada após a morte de Belaid.
Belaid foi assassinado na frente da sua casa, em Túnis, por um motociclista que fugiu. Ninguém reivindicou a autoria do crime.
Mesmo assim, uma multidão ateou fogo à sede do Ennahda, que formou a maior bancada nas eleições legislativas de 16 meses atrás, as primeiras no país depois da revolução que derrubou o ditador Zine al Abidine Ben Ali.
Belaid era um advogado esquerdista que tinha relativamente poucos seguidores políticos, mas que falava por muitos que temem restrições de radicais religiosos às liberdades conquistadas recentemente.