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A Argentina ultrapassou a marca de um milhão de casos de Covid-19 nesta segunda-feira (19), de acordo com dados compilados pela Universidade Johns Hopkins. O número coloca o país entre os cinco mais afetados pela pandemia, depois de Estados Unidos, Índia, Brasil e Rússia. Mas outros dados também preocupam os argentinos.
Em outubro o país passou a registrar uma das maiores taxas diárias de mortes por Covid-19 por população no mundo: 9,93/milhão de habitantes, segundo o site Our World In Data. O número de mortes está duplicando em 29 dias e o de casos em 40 dias. A cada 10 testes realizados, 7 resultam positivos, um índice de positividade muito acima dos 5% recomendado pela Organização Mundial da Saúde para indicar que a pandemia está sob controle.
A taxa de mortes total por população também está aumentando rapidamente: são cerca de 591 óbitos por milhão de habitantes - acima da taxa registrada na Suécia (582/milhão), país que o presidente argentino Alberto Fernández usou como exemplo para alertar sobre os riscos que os argentinos corriam se o governo não implementasse confinamentos. No início deste mês a taxa de total de óbitos por Covid-19 na Argentina era de 365 por milhão de habitantes.
O agravamento da pandemia no país vizinho se deve a uma interiorização do vírus. De acordo com gráficos do jornal argentino, enquanto os casos registrados diariamente estão diminuindo na região metropolitana de Buenos Aires e na província de Buenos Aires – o território mais afetado pela Covid-19 nos primeiros meses da pandemia e onde o confinamento foi mais rígido – as demais províncias estão com a curva epidemiológica em ascensão. As grandes cidades do interior, como Mendoza, Rio Negro e Córdoba, registraram um forte aumento de casos desde setembro.
Um dos infectologistas que está assessorando o governo argentino disse, em entrevista ao La Nacion nesta segunda-feira, que o efeito do confinamento acabou se desgastando pelo cansaço da população e pelas mensagens "antiquarentena". "Também faltou uma política de busca de contatos mais enérgica porque a quarentena por si só não resolve o problema, os contatos deveriam ter sido isolados e testados para se antecipar ao vírus", explicou Pedro Cahn, diretor científico da Fundación Huésped, ao jornal argentino.
Adolfo Rubinstein, ex-ministro da Saúde no governo de Maurício Macri, ponderou, em um comentário no Twitter, que "o isolamento só funciona" por um curto período de tempo, a fim de preparar o sistema de saúde, e que precisa "ser acompanhado de medidas ativas para cortar a cadeia de infecções". "Assim, vidas e empregos são salvos", concluiu.
Neste momento, não há quarentenas tão rígidas como a implantada por Fernández no início da pandemia, mas há restrições de circulação pontuais e obrigatoriedade do uso de máscaras em território nacional. Em Buenos Aires, algumas escolas privadas estão retomando as aulas presenciais, seguindo protocolos sanitários definidos pelo Ministério da Educação.