A CPI da Espionagem no Senado quer fazer uma videoconferência com Edward Snowden, ex-técnico da NSA (Agência de Segurança Nacional) que revelou um amplo esquema de espionagem dos EUA neste ano. Integrantes da CPI também não descartam acionar a Justiça para ter acesso aos documentos vazados por Snowden e que ainda não foram divulgados pelo jornalista Glenn Greenwald.

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Hoje (9), integrantes da CPI anunciaram que vão procurar o advogado de Snowden e a embaixada Rússia, país onde ele está asilado, para tentar autorização para a conferência.

A decisão foi tomada depois que o responsável pelas reportagens que denunciaram a espionagem dos Estados Unidos sobre o Brasil e outros países, Glenn Greenwald, defendeu que o governo brasileiro conceda asilo político ao ex-técnico.

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Em depoimento à CPI da Espionagem no Senado ao lado do seu companheiro, o brasileiro David Miranda, Greenwald disse que não pode dar detalhes do conteúdo espionado pelos Estados Unidos porque a "fonte" das informações é Snowden.

"Ele está em situação perigosa. Eu não sei se ele vai. Na situação dele na Rússia, é bem complicado para trabalhar. A pessoa que divulgou tudo isso não está protegida", afirmou.

"Se vocês quiserem informações reais e saber detalhes como tudo a fundo, vocês têm como trazer o Snowden para o Brasil. Se vocês derem asilo para ele, vocês darão asilo para a pessoa que tem essa informação", completou Miranda.

O companheiro de Greenwald foi detido por mais de nove horas no aeroporto de Heathrow, em Londres, quando deixava o país para embarcar para o Brasil. Ele garante que as autoridades britânicas ainda não conseguiram acessar o conteúdo do material apreendido, que foi criptografado por Snowden.

Os dois afirmaram que ainda têm documentos em mãos repassados por Snowden que serão analisados para futuras reportagens, por isso não descartam o surgimento de novas denúncias envolvendo o Brasil. "São muitos documentos, é preciso passar por um processo de investigar cada documento. Não quer dizer que todas as histórias do Brasil acabaram, mas está no processo de análise dos documentos", afirmou Miranda.Busca e apreensão

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O senador Pedro Taques (PDT-MT) pediu para os dois disponibilizarem à CPI os documentos que têm em mãos, que comprovariam o "crime" de espionagem. Mas eles recusaram o pedido da comissão com o argumento de que são dados sigilosos que envolvem a segurança de outros países."Esse pedido é inviável. São documentos muitos sensíveis, que envolvem outros países. Estaremos entregando documentos do EUA ao Brasil, isso é traição", afirmou Miranda.

O relator da CPI, senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES), afirmou que não descarta acionar a Justiça para requisitar os documentos ainda não divulgados que estão com o jornalista norte-americano.

"A CPI não pode fazer busca e apreensão mas pode pedir à Justiça", ponderando que, apesar de não pretender fazer isso de imediato, poderá solicitar acesso aos arquivos se necessário for. "É uma providência que é prerrogativa da comissão e, se for importante para a investigação, em algum momento nós podemos sim tomar tal iniciativa", completou o relator.

David e Greenwald disseram que estão dispostos a colaborar repassando a documentação que já foi divulgada em reportagens e acreditam que dificilmente as autoridades brasileiras conseguiriam quebrar a criptografia dos arquivos que ainda não vieram a público e estão sendo analisados.

Hoje, na comissão, David e Greenwald rebateram argumentos do comando da Petrobras de que dados da empresa são "invioláveis". Reportagem de Greenwald, com base em documentos vazados por Snowden, mostrou que a espionagem da NSA atingiu a empresa brasileira.

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"É muito difícil se proteger contra o sistema dos EUA. O NSA está invadindo sistemas muito protegidos, fortes de outros países que acham que são muito protegidos. Eles não estão fazendo brinquedos. Acho que tem um motivo sério contra a Petrobras, mas não posso falar especificamente o que estão coletando porque eu não sei. Mas o NSA sabe, o governo dos EUA sabe, precisa fazer pressão para o governo dos EUA divulgar isso", afirmou Greenwald.

Segundo o jornalista, a legislação dos Estados Unidos não impõe limites à espionagem contra "estrangeiros" --com regras que restringem essas ações somente ao mercado interno norte-americano.

Greenwald disse à CPI que o Brasil está no grupo de países investigados pela NSA que não colaboram com as ações da agência."Tem um grupo de países que trabalham com a NSA. Tem um segundo grupo de países que são alvo de espionagem da NSA e às vezes trabalham com a NSA para fazer espionagem, como Alemanha, França, Espanha Itália. E tem um terceiro grupo que são alvo: China, Rússia, Brasil, Venezuela", afirmou.

Críticas

Na CPI, o companheiro do jornalista fez críticas ao Ministério das Relações Exteriores sobre o episódio de sua prisão em Londres. Miranda disse que ficou "decepcionado" com a atuação do Itamaraty no caso.

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"Eu fiquei decepcionado com a resposta de imediato que a gente teve do Itamaraty, porque foi rápida, mas não foi suficiente. E até agora não vi nenhuma reposta concreta para que isso não se repita com outro brasileiro", afirmou.

O companheiro de Greenwald disse que foi retido na Inglaterra "simplesmente pelo fato de ser brasileiro". "Muitos jornalistas europeus que estão manuseando documentos passaram pela Inglaterra o tempo todo. Ainda existe essa mentalidade de que os brasileiros e os países aqui de baixo são ainda colônias", afirmou David.