Fornecimento de gás para o Brasil pode ser prejudicado
Rio A possibilidade de um confronto entre milícias da "Meia Lua boliviana" e tropas do governo de Evo Morales poderia pôr em risco o fornecimento de gás tanto para o Brasil quanto para a Argentina. O departamento de Tarija, que é responsável por mais de 90% do gás natural enviado aos dois países, faz parte da Meia Lua e seria território reivindicado pelos separatistas da Nação Camba em caso de conflito. É lá que estão os dois megacampos operados pela Petrobrás (San Alberto e San Antonio), ambos responsáveis por cerca de 80% do gás boliviano consumido pelo Brasil.
Há duas semanas, uma disputa pela posse de um dos dois grandes campos de hidrocarbonetos (petróleo e gás) de Tarija por duas províncias limítrofes fizeram manifestantes tomarem o controle de uma estação de petróleo, cortarem a maior parte do fornecimento de gás para a Argentina e uma pequena parte para o Brasil. O incidente gerou um mal-estar diplomático entre Brasília e La Paz.
Quanto à postura do Brasil para evitar a crise na região, o professor de relações internacionais da UFF e da Uerj Williams Gonçalves diz que Brasília, se necessário, usará o diálogo e o apelo às regras democráticas como estratégica.
"Qualquer conflito desta natureza conspira contra as instituições democráticas e contra a estabilidade da América do Sul. O Brasil certamente apelará ao respeito e a uma solução pacífica para o tema", afirmou.
A Petrobrás não quis se pronunciar sobre o tema, alegando ser um assunto interno da Bolívia.
Rio O fim dos trabalhos da Assembléia Constituinte da Bolívia, previsto para agosto, pode se transformar no estopim de uma das mais graves crises da história recente da América do Sul. A parte do país conhecida como Meia Lua, formada principalmente pelos departamentos de Santa Cruz, Pando, Beni e Tarija, se prepara para deflagrar um confronto separatista armado de grandes proporções, caso as exigências de maior autonomia para a região não sejam atendidas pela nova Carta Magna.
Segundo líderes regionais e analistas políticos, o movimento, chamado Nação Camba, tem milícias de cerca de 12 mil homens, armadas secretamente por lideranças locais, e que estariam recebendo treinamento de paramilitares das Autodefesas Unidas da Colômbia (AUC). Fontes militares brasileiras temem que, em caso de conflito, o governo do presidente venezuelano, Hugo Chávez, intervenha a favor de Evo Morales, criando um cenário dramático numa frágil e vasta região de fronteira com o Brasil.
"Só estamos aguardando o fim dos trabalhos da Assembléia Constituinte. Se não garantirem a autonomia que exigimos na Constituição, o caminho é a separação. Não existe meio termo, a situação é insustentável", disse Sergio Antelo, um dos líderes do movimento Nação Camba.
Região rica
O território reivindicado pelos separatistas gera a maior parte da riqueza da Bolívia e tem os melhores indicadores sociais de um dos países mais pobres do continente. O movimento existe há décadas mas ficou mais forte com a chegada do presidente Evo Morales ao poder. Os defensores da autonomia alegam que Morales, com sua postura centralizadora, retira recursos das regiões mais ricas, por meio do recolhimento de impostos, sem dar contrapartida em investimentos.
"Não temos culpa da pobreza da parte andina do país. O que ele (Morales) está fazendo é empobrecer toda a Bolívia, pois o nosso dinheiro investido nas comunidades indígenas também não está melhorando a situação deles. Temos um objetivo claro, que é slogan de campanha: pátria ou morte", disse um funcionário de alto escalão do departamento de Santa Cruz, integrante do movimento, que pediu anonimato e confirmou a existência de milícias com cerca de 12 mil homens.
Três dos quatro departamentos fazem fronteira com o Brasil, com uma extensão de 3.423 quilômetros.
Autonomia
O projeto de autonomia proposto a La Paz pelos separatistas para ser incluído na nova Constituição é o de um modelo de "Estado binacional", o que daria aos departamentos (estados) da Nação Camba independência na gestão de recursos, na segurança interna e na administração. Morales rebate dizendo que isso não é um projeto condizente com um Estado soberano e integrado, e que a proposta é uma "desculpa para iniciativas que ferem a unidade e a soberania". Morales conta com um efetivo de cerca de 25 mil homens nas Forças Armadas, e nos últimos meses recebeu helicópteros e armas da Venezuela.
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