Yangun Pelo menos nove pessoas, entre elas um japonês, foram mortas e 11 ficaram feridas ontem quando soldados do Exército de Mianmar abriram fogo contra milhares de manifestantes que desafiavam um toque de recolher, informou o governo. Trinta e um policiais ficaram feridos.
Entre os mortos estava um repórter fotográfico japonês, Kenji Nagai, que cobria os protestos em Yangun para a agência de notícias APF, do Japão. Segundo dissidentes birmaneses no exílio, o número de mortos e feridos é maior.
A violência começou ainda na madrugada de ontem, quando policiais invadiram os monastérios à procura de religiosos que estariam organizando os protestos. Eles espancaram e prenderam pelo menos 100 religiosos antes mesmo de começar o dia. O resultado foi um número menor de birmaneses nas ruas. Em Yangun, cerca de 70 mil pessoas participaram dos protestos.
Testemunhas afirmaram que um destacamento militar invadiu o Hotel Traders, um dos mais luxuosos de Yangun, e realizou um pente fino em todos os quartos, procurando por jornalistas estrangeiros que teriam entrado no país com visto de turista. Várias vans foram estacionadas na porta do prédio de 22 andares à espera de estrangeiros presos na operação, mas até o final da tarde de ontem não havia notícia do resultado da blitz.
Apesar da atuação da polícia e do Exército, o número de manifestantes e os focos de revolta cresceram no decorrer do dia fato que foi associado pela junta militar à capacidade rápida de comunicação entre os dissidentes, usando telefones celulares e a internet. Durante todo o dia, os militares tentaram desesperadamente cortar as transmissões telefônicas e os acessos à rede. Embora com maior dificuldade, organizações de direitos humanos, ativistas políticos e exilados continuaram a receber informações sobre os acontecimentos em Mianmar por meio de blogs e celulares de birmaneses.
A violência da repressão militar, tanto ontem quanto na quarta-feira, esclareceu a dúvida, que muitos ainda tinham, sobre a possibilidade de o governo atirar contra monges budistas, a classe social mais respeitada de Mianmar.
Os protestos começaram em 19 de agosto, motivados pelas altas dos preços dos combustíveis decretadas pelo governo, o que disparou os preços de bens da cesta básica. As tensões agravaram-se no início de setembro, quando um grupo de monges foi agredido por soldados durante uma manifestação pacífica. Os monges exigiram um pedidos de desculpas que os militares não deram. Revoltados, os religiosos aderiram aos protestos.
Inicialmente intimidados com a presença dos monges, os militares evitaram a violência. Na terça-feira, porém, quando perceberam que a situação saiu de controle, a junta militar de Mianmar anunciou um toque de recolher, proibiu reuniões de mais de cinco pessoas e colocou as forças de segurança nas ruas das maiores cidades do país, Yangun e Mandalay.
Mianmar é governado por um regime militar desde 1962 e não realiza eleições parlamentares desde 1990, quando o partido oficial perdeu de maneira arrasadora para a oposição liderada pela vencedora do prêmio Nobel da Paz em 1991, Aung San Suu Kyi, que cumpre prisão domiciliar desde 2003.
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