Buenos Aires - Os Estados Unidos e a Argentina elevaram o tom da tensão diplomática em torno do carregamento do avião da Força Aérea norte-americana que foi apreendido pelo governo argentino em fevereiro. O presidente dos EUA, Barack Obama, classificou como "incidente sério" a decisão do país sul-americano de reter armas e equipamentos de inteligência que seriam usados por militares norte-americanos num treinamento especial oferecido às forças de elite da Polícia Federal.
"Eles têm alguns de nossos equipamentos de comunicação. Não há razão para não devolvê-los. Na próxima vez que eu vir a presidente (Cristina) Kirchner, vou perguntar-lhe: podemos recuperar nosso equipamento?", disse Obama, numa entrevista ao jornal Miami Herald, em El Salvador. Esta foi a primeira vez que ele se referiu publicamente ao episódio ocorrido há 40 dias e que tem causado tensão entre a diplomacia dos dois países. Na entrevista, Obama deixou claro que o incidente não foi superado e que ele espera a devolução do material apreendido pela aduana argentina. Também explicou que considera a situação séria porque, "historicamente, a Argentina tem sido um amigo e um sócio dos Estados Unidos". Não obstante, Obama mostrou-se conciliador ao dizer que o incidente "não vai ser um aspecto decisivo da relação Estados Unidos/Argentina".
Ontem foi feriado na Argentina e, até o fechamento desta edição, nenhum funcionário havia se manifestado sobre as declarações do presidente dos EUA. Mas a posição que o chanceler da Argentina, Héctor Timerman, tem apresentado, desde o início, é de não devolver o material.
O caso
A crise entre os dois países começou em 10 de fevereiro, quando um avião militar norte-americano aterrissou no Aeroporto Internacional de Ezeiza, em Buenos Aires, carregado com armas, computadores, medicamentos e "drogas", como informou Timerman.
A chegada dos militares norte-americanos e do carregamento estava prevista num acordo bilateral pelo qual os EUA dariam um treinamento para a tropa de elite da Polícia Federal argentina. A aduana da Argentina constatou que alguns itens da carga não faziam parte da lista aprovada pelos dois países e os militares norte-americanos se negaram a abrir uma parte da bagagem.
A partir daí, instalou-se a confusão e, numa atitude inusitada para a diplomacia, Timerman assumiu uma operação que abriu a bagagem à força. Ele levou o assunto à rede social Twitter, onde publicou uma série de mensagens criticando os EUA.