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Família palestina deixa sua casa localizada próximo a ponto de bombardeio de Israel e busca refúgio em uma escola da Organização das Nações Unidas | Oliver Weiken/EFE
Família palestina deixa sua casa localizada próximo a ponto de bombardeio de Israel e busca refúgio em uma escola da Organização das Nações Unidas| Foto: Oliver Weiken/EFE

Ataque

Novos bombardeios na Faixa de Gaza

Novos bombardeios israelenses na Faixa de Gaza resultaram na morte de nove palestinos ontem, elevando para 333 o número de mortos em 12 dias de conflito. A maioria dos mortos é de civis. Entre eles o quinto membro de uma família de Beit Hanun (norte), quatro homens da cidade vizinha Beit Lahiya, três homens no centro de Gaza e outra pessoa em Qarara (sul), segundo o porta-voz dos socorristas, Ashraf al Qudra. O número de mortos aumentou desde a noite de quinta-feira (17), quando o exército israelense deu início a uma operação terrestre, complementando os bombardeios da Aviação e da Marinha de Guerra contra o território palestino. Nas primeiras 24 horas da incursão terrestre, mais de 70 palestinos morreram nos ataques, concentrados em localidades do norte e do sul de Gaza. Na noite de sexta-feira, os ataques foram intensos em Beit Lahia e Beit Hanoun, matando uma família de oito pessoas, entre elas duas crianças e dois adolescentes. Três membros de outra família também morreram em um bombardeio noturno no sul da Faixa de Gaza.

Consequências

Crianças exibem sinais de trauma e comportamento agressivo

O conselheiro que trabalha no sistema educacional da ONU Rasem Shamiya diz que muitas das crianças exibem sinais de trauma, incluindo déficit de atenção, comportamento agressivo ou evitam contato visual. "Eles vivem sob muito estresse", contou. "Desde que nasceram, essas crianças nunca conheceram a paz."

Mohammed e Ahmed, filhos de outro braço do clã Attar, contaram que costumam brincar de "árabes e judeus", lutando uns contra os outros com armas de brinquedo e pedaços de madeira. Na brincadeira, os árabes sempre ganham. Sada Attar, de 43 anos, teme que seus filhos e as outras crianças dessa geração cresçam achando que a violência é algo normal. "A existência de crianças com distúrbios não faz bem para Israel no longo prazo", disse. "A criança vai crescer e confrontar o Estado sionista com pedras, fogo, com tudo que estiver ao alcance." Logo após a fala dela, as crianças pararam a gritaria. Voluntários chegaram ao pátio da escola carregando papéis, lápis, bambolês e bolas de futebol. Ahmed e os outros garotos começaram a jogar bola e rapidamente ficaram absortos no jogo.

As crianças do clã palestino Attar vivem sua terceira guerra em apenas cinco anos. A cada conflito, abandonam o lar para se proteger dos bombardeios de Israel que atingem bairros residenciais na Faixa de Gaza. As cicatrizes psicológicas são visíveis. Algumas demonstram o problema de forma mais evidente, outras abraçam suas mães ou se escondem timidamente, como Ahmed, de 12 anos, que se sentou sozinho em um banco no quintal da escola da Organização das Nações Unidas (ONU) onde sua família procurou refúgio uma vez mais na última segunda-feira. "O bombardeio foi muito perto da minha casa", disse o menino, cabisbaixo, evitando o olhar. "Eu estou com medo".

Traumas

Especialistas afirmam que será cada vez mais difícil curar vítimas como essas, que passam por traumas que se repetem ainda na infância. "Para muitas crianças de Gaza, essa é a terceira vez que passam por choques assim", explica Bruce Grant, chefe da agência para proteção das crianças em territórios palestinos do Unicef. "Isso reduz a capacidade de elas resistirem às crises e de se recuperar. Algumas não voltarão à normalidade e o medo vai se tornar comum em suas vidas."

Famílias procuram abrigos em escolas da ONU

O clã Attar vive em Atatra, um bairro na região nordeste de Gaza, a poucas centenas de metros de Israel. Como os militantes palestinos costumam lançar foguetes a partir de áreas de fronteira, essas regiões são alvos frequentes dos ataques israelenses. Os familiares já tiveram de abandonar suas casas no inverno entre o fim de 2008 e o início de 2009 devido a uma ofensiva militar israelense que durou três semanas. Em novembro de 2012, durante uma semana de lutas na fronteira, saíram de novo. No último fim de semana, eles tiveram de deixar as casas mais uma vez.

Após aviões israelenses espalharem folhetos sobre a cidade de Atatra no domingo, dia 6, avisando os moradores para deixar a região, as irmãs Mariam e Sada Attar juntaram alguns pertences em sacolas plásticas e se apressaram em sair de casa. Elas levaram dez crianças e o marido de Mariam, Omar, que sofre de estresse pós-traumático e não consegue mais ter uma vida normal.

As famílias procuraram abrigo na mesma escola da ONU onde ficaram durante os dois últimos ataques. No total, 20 escolas da organização receberam mais de 17 mil habitantes de Gaza, entre eles muitas crianças, após os alertas para abandonar o norte do território, que é controlado pelo Hamas. Os Attar ocuparam parte do segundo andar, lotado com mais de 40 pessoas dormindo em cada sala de aula. Miriam, Sada, Omar e as crianças se espremeram na metade de uma sala de aula, com seu espaço demarcado por bancos. Outra parte da família alojou-se no resto do cômodo. Um cobertor tapando a porta era a única forma de garantir certa privacidade.

Caos

Na sala de aula a cena era caótica, com crianças se empurrando e mães gritando para que elas se comportassem. Não havia nada a fazer, exceto esperar. Miriam Attar, de 35 anos, disse que eles dormiram no chão por falta de colchões. Ela sentou-se no chão, encostou-se contra a parede e pegou no colo seu filho mais novo, Mahmoud, de 16 meses. "Os mais velhos estão carentes", disse. Alguns pedem que ela os acompanhe até ao banheiro. Lembrando o último bombardeio, ela disse: "achávamos que a casa iria cair em cima de nós e as crianças começaram a gritar".

Seu filho Mohammed, de 14 anos, contou que a família se agachou na sala durante o bombardeio para se proteger de estilhaços. Ele disse que o tempo passava devagar porque não havia eletricidade ou tevê.

Israelenses também são afetados pelo conflito

Crianças israelenses, especialmente as que vivem em áreas próximas à Gaza, também são afetadas pelo conflito. Desde o ano 2000, militantes islâmicos dispararam milhares de foguetes contra comunidades israelenses. Segundo psicólogos, entre as crianças da região fronteiriça de Sderot, são altas as taxas de ansiedade e de crianças que urinam na cama. Durante a escalada de violência dos últimos dias, as mães israelenses protegiam seus filhos sob seus próprios corpos quando soavam as sirenes alertando para o ataque de foguetes vindos da Faixa de Gaza.

Imagens das agências de notícia mostram crianças chorando, amedrontadas com as explosões próximas às suas casas. Muitas crianças israelenses foram feridas durante os ataques, incluindo duas irmãs que brincavam fora de casa. Um menino de 16 anos foi gravemente ferido por um estilhaço quando voltava de uma barbearia. Já em Gaza, cerca de um quarto dos palestinos mortos na primeira semana da ofensiva eram crianças, segundo a ONU.

O medo das crianças é muito intenso, e os pais estão cada vez mais incapazes de ampará-las, diz o chefe da agência da ONU que dá auxílio aos refugiados palestinos, Pierre Krahenbuhl. "Encontramos famílias que simplesmente não sabem mais o que dizer a seus filhos quando eles perguntam por que a casa está tremendo ou por que há tanta destruição ao redor."

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