Mohammed trabalha em um supermercado de Beirute, capital do Líbano, onde ajuda os clientes a carregarem as compras até em casa. O menino de 14 anos guarda todas as gorjetas que recebe para enviar à sua família, que mora em um vilarejo no nordeste da Síria. Mohammed é uma das milhares de crianças sírias que largaram a escola e fugiram de um conflito que já dura dois anos e matou mais de 70 mil pessoas. Ele é também um entre tantos sírios vistos frequentemente pelas ruas de Beirute, trabalhando como frentistas em postos de gasolina e, por vezes, implorando por dinheiro.
Grupos humanitários de ajuda alertam que cerca de dois milhões de crianças na Síria enfrentam, entre outros problemas, desnutrição, doenças, casamentos precoces e traumas severos como resultado da guerra civil iniciada há pouco mais de dois anos.
Para marcar o segundo ano da revolta contra o presidente sírio, Bashar Assad, a entidade Salve as Crianças, baseada no Reino Unido, divulgou recentemente o relatório "Crianças sob Fogo", no qual destaca que o conflito deixou muitas crianças traumatizadas, incapazes de irem à escola e sofrendo para conseguir o que comer. "Tenho que dizer que estou chocado com as histórias que ouvi de crianças, aqui no Líbano, que fugiram da Síria", disse Justin Forsyth, presidente da entidade, à agência de notícias Associated Press.
Marcas
"Você nunca vai querer ouvir uma criança falar sobre ter visto seu amigo ser morto ou seu pai torturado na sua frente, ou ainda seu irmão levar um tiro na perna", acrescentou Forsyth, que passou diversos dias no Líbano se encontrando com crianças que fazem parte dos cerca de 320 mil refugiados sírios no país vizinho. Ele alertou que as crianças vão precisar de décadas para se recuperarem do trauma.
Outro relatório, divulgado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), diz que a violência, os danos à infraestrutura e serviços essenciais causados pelo conflito sírio podem deixar toda uma geração de crianças traumatizada.