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Crianças ucranianas passam por lavagem cerebral em Belarus para apoiarem a Rússia
O ditador de Belarus, Alexander Lukashenko| Foto: EFE/EPA/SERGEI ILNITSKY

Desde o início da invasão russa à Ucrânia, em fevereiro de 2022, mais de 2,4 mil crianças ucranianas foram levadas para Belarus, conforme um estudo revelado em novembro do ano passado pela Universidade de Yale.

Investigações feitas no começo deste ano pela estatal Rádio Free Europe (RFE) e pelo projeto de jornalismo investigativo ucraniano Skhemy apontam que a maior parte dessas crianças estão sendo levadas para campos de “recreação” onde, longe de receberem apenas cuidados, são submetidas a um processo de lavagem cerebral por meio da promoção de narrativas pró-Rússia e até militarização. O objetivo desse processo é fazer com que os pequenos ucranianos esqueçam suas identidades nacionais e se transformem em apoiadoras do regime de Vladimir Putin, o ditador russo que é o maior aliado de Belarus.

As investigações da RFE apontam que essas crianças, em sua maioria oriundas de cidades que estão sob controle de tropas russas na Ucrânia, como Luhansk e Donetisk, são levadas para Belarus por organizações estatais e pela Cruz Vermelha do país, que está neste momento sob controle do ditador Alexander Lukashenko e que foi desligada da matriz internacional justamente por estar envolvida nessas transferências.

Relatórios citados pela RFE indicam que nesses campos, os pequenos ucranianos são expostos a atividades que incluem excursões a locais com forte simbolismo soviético e shows de artistas locais que propagam discursos contra líderes ocidentais e ucranianos.

Além da propaganda ideológica, há também o forte componente de militarização. Segundo a RFE, nesses campos, as crianças ucranianas têm participado de treinamentos conduzidos por militares de Belarus, aprendendo táticas de sobrevivência em situações extremas e sendo preparadas para uma vida de subserviência aos interesses russos.

Há ainda uma ênfase na desumanização do indivíduo ucraniano que é classificado como “inimigo da Rússia”, reforçando uma mentalidade de hostilidade em relação à própria pátria dessas crianças. A ideia, segundo RFE, é que esses pequenos retornem à Ucrânia ou cresçam em territórios ocupados com uma visão de mundo completamente distorcida, o que enfraqueceria a identidade nacional ucraniana a longo prazo.

A situação tem sido particularmente mais grave quando se trata de crianças órfãs – descritas como sendo os principais alvos dessas transferências -, que neste momento compõem uma parte significativa do grupo de crianças levadas pelo regime de Lukashenko. Sem pais ou parentes próximos para protegê-las, essas crianças são especialmente vulneráveis ao processo de transferência e reeducação imposto por Belarus e pela Rússia.

O destino final desses órfãos, muitas vezes, se perde em meio à burocracia das zonas de conflito. De acordo a publicação da RFE, rastrear a localização dessas crianças e garantir seu retorno à Ucrânia tem sido uma tarefa quase impossível, dada a falta de transparência e o controle rígido imposto pelas autoridades do regime de Belarus.

ONGs condenam o ato e pedem investigação internacional

Organizações de direitos humanos, como a ucraniana Zmina e a Freedom House, já denunciaram o processo de "indução política e reeducação militar" dos pequenos ucranianos pelo regime de Belarus, apontando que 18 entidades do país de Lukashenko estão diretamente envolvidas na deportação desses pequenos. As organizações de direitos humanos afirmam que as ações de Belarus contra essas crianças configuram crimes contra a humanidade, por isso, elas têm pedido que o Tribunal Penal Internacional (TPI) investigue as ações do ditador Lukashenko.

A analista jurídica da Zmina, Onysia Siniuk, comentou no site da ONG que existe uma estratégia de longo prazo em ação, já que, nesses campos, as crianças ucranianas estão sendo ensinadas a se verem até mesmo como cidadãs russas e, com o tempo, algumas delas se tornam agentes de propaganda do Kremlin.

“[...] Infelizmente, essa prática tem funcionado muito bem. Algumas crianças, após estarem constantemente nesse sistema [de doutrinação], se tornam propagadoras por conta própria [das narrativas russas]”, disse ela.

O TPI já emitiu em março do ano passado um mandado de prisão contra Putin por estar envolvido no processo de deportação forçada de crianças ucranianas para a Rússia. Agora, há esforços para que agentes do regime de Belarus, incluindo o ditador Lukashenko, sejam também responsabilizados por levar os pequenos ucranianos para o país, onde enfrentam este processo de reeducação.

Lukashenko tem negado qualquer irregularidade na deportação dessas crianças. O ditador afirmou que os pequenos ucranianos foram levados para Belarus para receber “tratamento médico e participar de atividades de lazer”.

“Elas estão felizes aqui”, disse Lukashenko em uma entrevista ao falar sobre o tema, desdenhando das acusações internacionais de deportação sem autorização e afirmando que Belarus está apenas oferecendo ajuda humanitária. No entanto, as evidências apontam para o contrário.

A Ucrânia, por sua vez, tem investigado o a deportação dos pequenos e tratado o ato como um crime de “genocídio”. Autoridades ucranianas afirmam que mais de 19 mil crianças do país foram deportadas de forma “forçada” desde o início da invasão de Putin.

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