Perspectivas
Maryna Rakhlei, analista do desenvolvimento regional da Europa Central e Leste e coordenadora da ONG German Marshall Fund em Berlim, aponta os possíveis cenários pós-referendo.
Rússia
A Rússia tenta bloquear a influência do Ocidente, provoca tensão separatista, manipula as diferenças regionais e o Ocidente para que aceite um governo "moderado" (menos "ucraniano", menos genuinamente independente).
Ucrânia
A Ucrânia fica sem líderes genuínos de oposição e não terá como formar um governo eficiente e não corrupto; extremistas ucranianos se tornam mais ativos e protestam; a Crimeia faz seu referendo, nem livre, nem justo e decide aderir à Rússia; seguem-se confrontos separatistas e mortes.
União Europeia
A União Europeia tenta ganhar tempo, não age de forma pró-ativa, não tem uma estratégia para a Ucrânia nem para a região; mantém negociações com a Rússia, sem considerar os interesses ucranianos.
Violência
Um livro famoso do escritor soviético Vasily Asyonov, The Isle of Crimea ("A Ilha da Crimeia", na tradução em português) imagina o território como uma ilha muito rica próxima à União Soviética, tal como Taiwan para a China. A ficção termina de forma muito triste, com a invasão da ilha e quase todos os habitantes mortos. Esse seria o cenário mais terrível. Por coincidência, o governador da Crimeia se chama [Sergey] Aksyonov.
Na última sexta-feira, grande parte dos habitantes da Crimeia comemorava abertamente nas ruas a reunificação com a Rússia, consciente de que o referendo de hoje é um mero trâmite para consumar sua cisão da Ucrânia. Além dos 1,5 milhão de crimeanos, também comparecerão às urnas mais de 300 mil moradores do município de Sebastopol, a cidade mais russa da península, que depende administrativamente de Kiev.
"Estou absolutamente convencido de que a grande maioria dos crimeanos votará a favor da reunificação com a Rússia", afirmou Sergei Axionov, primeiro-ministro da Crimeia. Em um simbólico gesto, as autoridades separatistas retiraram o escudo ucraniano da fachada do Legislativo em Simferopol, capital da Crimeia, e em seu lugar içaram uma enorme bandeira russa.
O festivo ambiente eleitoral em Simferopol estava muito afastado da tensão que se viveu quando tropas com capuzes e sem distintivos apareceram na região no final de fevereiro. Agora, a ordem nas ruas da Crimeia corre a cargo das milícias populares de autodefesa, cujos soldados receberam autorização para portar armamentos após jurar lealdade à república.
Porém, o Parlamento ucraniano dissolveu ontem o legislativo autônomo da Crimeia. A decisão, que entrou em vigor de maneira imediata, foi adotada com os votos de 278 dos 296 deputados presentes no parlamento ucraniano.
A resolução do Conselho Superior afirma que a medida foi adotada em consideração à sentença do Tribunal Constitucional da Ucrânia, que na última sexta-feira declarou inconstitucional o referendo.
O tribunal ordenou ainda que todas as atividades das comissões eleitorais que preparam a consulta na república autônoma fossem interrompidas, e proibiu as autoridades locais de financiarem a votação.
Alheias às decisões que são tomadas em Kiev, as autoridades da Crimeia têm tudo pronto para o referendo.
Mudanças
Os russos da Crimeia estão convencidos que o ingresso na Rússia trará uma reviravolta em suas vidas após mais de 20 anos de miséria como parte da Ucrânia e as perspectivas econômicas de fazer parte do vizinho do norte demonstraram ser um fator decisivo na consulta popular.
Nas calçadas, praças e pontos de ônibus de Simferopol, os únicos cartazes eleitorais expostos apoiavam a anexação à Federação Russa. "Juntos com a Rússia", afirmavam os cartazes, ignorando que 25% dos crimeanos são ucranianos e 12% tártaros, minorias que apoiam a integridade territorial da Ucrânia.
Na Praça de Lênin, onde mais de uma centena de soldados de autodefesa desfraldavam bandeiras russas, o edifício do governo estava iluminado com palavras que procuram não deixar dúvidas sobre o futuro da região. "Crimeia é Rússia", "A casa da Crimeia é a Rússia" e "O futuro da Crimeia está na Rússia", destacavam as mensagens.
Na capital crimeana, onde a minoria ucraniana tem medo de sair às ruas, não há espaço para a opção que contempla uma autonomia no seio da Ucrânia, ainda mais depois que o Parlamento separatista aprovou uma Declaração de Independência. A exceção eram os tártaros que na última sexta-feira se concentraram à beira da estrada nos arredores de Simferopol para manifestar sua oposição ao referendo e a favor da retirada das tropas russas.
Colaborou Helena Carnieri.
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