Cuba, que vive imersa em uma grave crise econômica, com impactos devastadores que se estendem por diversos setores do país, agora pode estar se deparando com um cenário ainda mais sombrio: o aumento significativo do número de pessoas em situação de rua.
De acordo com informações da mídia independente da ilha, este aumento é um reflexo direto da pobreza que tem se alastrado pelo país e que vem se intensificando dia após dia, um resultado direto das políticas do regime comunista cubano liderado por Miguel Díaz-Canel.
Em setembro do ano passado, a organização Observatório Cubano de Direitos Humanos (OCDH) afirmou em um relatório que 88% da população cubana estava vivendo neste momento em situação de pobreza extrema, 13% a mais do que em 2022. A população mais vulnerável - crianças, idosos e mulheres - estariam sendo os mais atingidos por essa triste realidade.
Neste contexto, a ditadura de Cuba reconheceu, por meio de uma publicação veiculada na mídia estatal, que até 2023 foram registradas 3.690 pessoas vivendo nas ruas do país. Segundo o portal CiberCuba, o último dado sobre esses indivíduos havia sido divulgado em 2015, quando se registrou 1,2 mil moradores de rua, ou seja, Cuba enfrentou um aumento de mais de 100% no número de pessoas em situação de rua nos últimos anos.
As autoridades comunistas afirmam que estão tratando as pessoas que se encontram nesta condição conforme os protocolos estabelecidos.
“Precisamos saber que existe uma política desde 2014 para o aperfeiçoamento do atendimento às pessoas que perambulam [termo utilizado para classificar os moradores de rua]. Esse acordo está sendo modificado neste momento devido às deficiências e à percepção de que pode haver um aumento de cidadãos que perambulam”, disse Belkis Delgado Caceres, diretora de Prevenção, Assistência e Trabalho Social do Ministério do Trabalho e Segurança Social do regime de Cuba, ao site estatal Trabajadores
No entanto, a realidade nas ruas contradiz a narrativa oficial.
Jornalistas independentes disseram ao portal Martí que tem sido cada vez mais comum se deparar com muitas mulheres jovens, idosos e crianças desamparados pelo Estado, que, para sobreviver, pedem ajuda a quem passa por perto ou vasculham as lixeiras em busca de algo para comer.
Esse cenário, segundo os jornalistas, tem sido visto principalmente em áreas da capital Havana e em províncias como Holguín, localizada no sul do país.
"Mulheres com crianças, com bebês nos braços, nesta situação", contou Julio César Álvarez, um jornalista independente cubano, ao portal Martí.
Em Holguín, segundo o Martí, existe um centro para atender pessoas em situação de rua, mas, conforme as informações, a demanda por ajuda cresceu tanto nos últimos anos que o local já está sobrecarregado e não consegue mais lidar com todos os necessitados.
Além de lidar com essa alta demanda, o centro ainda foi atingindo por uma infestação de percevejos (Cimex lectularius), que comprometeu ainda mais as condições já precárias do espaço e obrigou diversas pessoas a saírem de lá sem ter para onde ir.
“Os percevejos estavam devorando as pessoas", disse Álvarez ao Martí.
Diante desse cenário, algumas igrejas e ativistas tem tentado desenvolver iniciativas para ajudar os mais necessitados, mas eles pouco podem fazer, já que também estão sendo diretamente afetados pela forte crise que atinge a ilha.
“É muito difícil em todos os casos. Mas quando você vê jovens pedindo comida na rua, já é algo um pouco mais sério, e a situação tem se agravado, a tal ponto que em cada esquina pode haver sete ou oito [jovens moradores de rua]”, disse a ativista María López, que mora em Havana, ao Martí.
Cuba tem lidado com uma intensa crise alimentar, energética e médica. A ineficiência econômica, agravada pelas decisões controversas do regime de Díaz-Canal, resultou em uma escassez generalizada e em uma inflação galopante na ilha.
Segundo informações, os salários e as aposentadorias estão sendo praticamente insuficientes para cobrir as necessidades mais básicas dos cidadãos, o que pode estar contribuindo para que mais pessoas passem a morar nas ruas.
Em fevereiro, Cuba teve que pedir ajuda pela primeira vez ao Programa Mundial de Alimentos (PMA) da Organização das Nações Unidas (ONU), porque já não estava mais conseguindo distribuir uma simples unidade de leite e alimentos para as famílias que mais necessitavam.
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