Londres - Depois da recessão, vem a repressão, afirma, em documento que será publicado hoje, a Anistia Internacional, entidade que mapeia violações de direitos humanos ao redor do planeta.
A crise econômica sem precedentes em décadas, além de empurrar para a miséria milhões de pessoas, tem servido de pretexto para que governantes aumentem a repressão e a censura a grupos de oposição, apertem políticas anti-imigração e releguem para o último plano comunidades carentes e já excluídas em seus próprios territórios, diz o relatório.
O tom do relatório de 84 páginas é de catástrofe iminente, como quando fala que o mundo está sentado "num barril de pólvora prestes a explodir.
Um dos principais argumentos da Anistia é o de que o foco em uma crise (a econômica) e o desleixo com a outra (a humanitária) são uma "receita para piorar as duas. Nenhuma recuperação será sustentável se os fatores que aprofundam a miséria não forem combatidos.
"De um lado, existe o enorme perigo de pobreza crescente e condições sociais e econômicas desesperadoras levarem a instabilidade política e violência, registra o documento.
"Do outro, podemos chegar a uma situação em que a recessão será acompanhada por maior repressão de governos ameaçados especialmente aqueles com inclinação autoritária , que baterão duro em dissidentes, críticos e quem mais fizer acusações de corrupção e incompetência.
Embora esse tipo de risco autoritário tenda a ser automaticamente associado a países pobres ou marginais, o relatório não poupa o G20. O grupo das 20 principais economias do planeta e principal fórum de discussão para ações contra a atual crise econômica é criticado por não ter as mesmas preocupações quando se trata de direitos humanos.
Brasil
O Brasil, segundo o relatório, se encaixa nessa descrição de país que não implementa dentro de suas próprias fronteiras o que defende no exterior.
A busca brasileira por crescimento econômico a qualquer custo inclusive por meio de algumas obras do PAC ignora e prejudica comunidades carentes e excluídas, disse o responsável pelo capítulo sobre o país, Tim Cahill.
"Claro que reconhecemos que o Brasil tem de crescer, disse Cahill, "mas isso tem de ser feito com respeito aos direitos de todos os brasileiros.
Segundo ele, a expansão da economia tem sido feita à custa dos direitos de comunidades excluídas e marginalizadas.
Entre os exemplos destacados pelo pesquisador estão a expansão da agroindústria em Mato Grosso do Sul, que afeta indígenas, e a construção de uma siderúrgica no Rio de Janeiro, que atinge comunidades de pescadores.