A barreira de um bilhão de pessoas que sofrem de desnutrição será superada em 2009 em consequência da crise econômica mundial, anunciou nesta sexta-feira (19) a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO).
"Pela primeira vez na história da humanidade, mais de um bilhão de pessoas, concretamente 1,02 bilhão, sofrerão de desnutrição em todo o mundo", adverte a FAO em seu relatório anual sobre a segurança alimentar mundial.
"O número supera em quase 100 milhões (11% a mais) o do ano passado e equivale a uma sexta parte aproximadamente da população mundial", diz a agência da ONU, que tem sede em Roma. "A crise silenciosa da fome cria um risco grave para a paz e segurança mundial", disse o diretor geral da FAO, Jacques Diouf. "Precisamos urgentemente formar um consenso amplo para a erradicação total e rápida da fome." A FAO define como subnutrida a pessoa que ingere menos de 1.800 calorias por dia. Segundo a agência, quase todos os subnutridos vivem nos países em desenvolvimento.
Cerca de 642 milhões estão na Ásia e na região do Pacífico, e 265 milhões na África Subsaariana. Na América Latina e no Caribe, são 53 milhões.
O número de subnutridos no mundo passou de 825 milhões no biênio 1995-1997 a 873 milhões de 2004 a 2006.
Em 2008, o númerou caiu de 963 milhões a 915 milhões por uma melhor distribuição dos alimentos, mas a tendência se reverteu com o agravamento da crise econômica e financeira do fim do ano.
Contradição
Kostas G. Stamoulis, diretor da Divisão de Desenvolvimento Econômico Agrícola da FAO, disse que é a primeira vez na história que o mundo tem tantos famintos.
Segundo ele, trata-se de uma contradição, porque o mundo tem muita riqueza, apesar da crise.
Stamoulis disse que há recursos para eliminar a fome no mundo.
"Este ano, temos quase um recorde de colheira de grãos, então não há falta de comida, há falta de acesso à comida àqueles que têm fome.
A alta do preço de suprimentos como o arroz detonaram conflitos no mundo desenvolvido no ano passado.
A fome cresceu mesmo após a forte alta na produção de cereais em 2009, e uma pequena baixa no preço da comida em relação a meados de 2008.
No entanto, a média dos preços dos alimentos ainda está 24% mais alta, em termos reais, que em 2006, segundo a FAO.
A crise econômica mundial aumentou o problema para as pessoas afetadas pela perda de empregos.
O relatório prevê que os pobres urbanos devem ser os mais afetados, à medida que a crise faz minguar os investimentos estrangeiros e a demanda por exportações. Milhões devem voltar aos campos em decorrência disso.
A crise também afeta a qualidade da nutrição, à medida que as famílias tendem a buscar alimentos mais baratos, como os grãos, que são ricos em calorias mas contêm menos proteínas que a carne e os laticínios.
A FAO baseia sua estimativa em análises feitas pelo Departamento de Agricultura dos EUA. O relatório completo sobre a insegurança alimentar no mundo será apresentado oficialmente em outubro.
Longe do objetivo
Para a FAO, o objetivo fixado em 1996 na Cúpula Mundial sobre a Alimentação (CMA) de reduzir à metade o número de pessoas com fome não será alcançado.
A meta foi ratificada, no entanto, com o compromisso de ser atingida em 2015, em uma reunião da ONU em Roma em junho de 2008.
As estimativas da FAO confirmam a tendência desalentadora da última década para uma insegurança alimentar maior e revelam claramente o impacto da crise nas populações mais pobres do planeta.
"O aumento da insegurança alimentar que aconteceu em 2009 mostra a urgência de encarar as causas profundas da fome com rapidez e eficácia", afirma a organização.
"A atual desaceleração da economia mundial, que segue a crise dos alimentos e dos combustíveis e coincide em parte com ela, está no centro do forte aumento da fome no mundo", indica a agência da ONU.
As estimativas alarmantes da FAO foram publicadas três semanas antes da reunião de cúpula dos chefes de Estado e de Governo do G8, os oito países mais ricos do mundo, na cidade italiana de L'Aquila, de 8 a 10 de julho.
A crise econômica e suas repercussões, em particular na África, o continente mais afetado, estão na agenda da reunião.
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