O secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), José Miguel Insulza, deu início, nesta quarta-feira, ao diálogo entre representantes do governo de facto de Honduras, liderado por Roberto Micheletti, e do presidente deposto por um golpe de Estado em 28 de junho, Manuel Zelaya, pedindo soluções imediatas para a crise no país.
"Não estamos aqui para criar um debate, estamos aqui para encontrar soluções concretas para uma situação que não pode mais se prolongar", disse Insulza, que atua como supervisor do encontro.
Em seu discurso, Insulza pediu que fossem considerados no encontro "todos os pontos contemplados pelo Acordo de San José" proposto pelo presidente da Costa Rica, Oscar Arias, em julho.
O chefe da OEA lembrou que "o acordo é claro em cinco aspectos. Primeiro, a restituição do presidente eleito pelo povo hondurenho", além da formação de um governo de unidade nacional, a "garantia de Zelaya e outras autoridades para promover a Assembleia Constituinte, anistia política e mecanismos de supervisão internacional".
"Queremos buscar consensos claros sobre esses pontos", acrescentou Insulza. "Nada disso deve levar mais tempo", continuou, pedindo às partes que busquem um acordo se "querem o bem de Honduras e a reconciliação nacional".
O subsecretário para assuntos do Hemisfério Ocidental do EUA, Thomas Sannon, também presente na reunião, disse "lamentar a ausência de Honduras na comunidade internacional" e pediu uma solução rápida para o impasse, lembrando que o país foi expulso da OEA por conta do golpe de Estado.
O chanceler do governo de facto, Carlos López, exigiu da comunidade internacional que "não continue o debate sobre o governo ser ou não o sucessor constitucional ou se convém ou não apoiar as eleições" de 29 de novembro.
Na terça-feira à noite, Micheletti disse que ambas as partes abordarão "com um novo espírito" os temas de que alguma maneira foram objeto de consideração no tratado de San José, solução proposta pela Costa Rica que sugere a anistia política e a restituição de Zelaya.
Cada uma das partes é representada por três pessoas. Micheletti tem como delegação a ex-presidente da Corte Suprema de Justiça, Vilma Morales; o advogado Arturo Corrales, ex-candidato presidencial do opositor Partido Democrata Cristão; e advogado Armando Aguilar. Já Zelaya seria representado pelo líder sindical Juan Barahona e seus ministros Víctor Meza, do Governo, e Mayra Mejía, do Trabalho.
Antes do encontro, policiais atiraram gás lacrimogêneo para dispersar pouco mais de 100 manifestantes favoráveis a Zelaya, que marchavam em frente à embaixada norte-americana.
Honduras tem eleições presidenciais agendadas para 29 de novembro, mas críticos dizem que as restrições à imprensa e às aglomerações públicas impostas pelo presidente de facto hondurenho, Roberto Micheletti, significam que a campanha não será justa.
Apesar de já ter revogado o decreto de emergência nesta semana, a decisão só terá efeito quando publicada no diário oficial, o que até agora não se sabe quando acontecerá.
Micheletti admite deixar presidência
O presidente interino de Honduras admitiu nesta quarta-feira a possibilidade de deixar o poder, mas apenas se o presidente deposto desistir da exigência de ser restituído no cargo. Roberto Micheletti fez a declaração a uma missão de chanceleres da Organização dos Estados Americanos (OEA).
"Se eu sou obstáculo, me retiro, mas exijo que este senhor também fique de lado", disse Micheletti, se referindo a Manuel Zelaya.
O interino disse ainda que que haverá eleições presidenciais em novembro a menos "que nos invadam", durante um novo diálogo para tentar encerrar a crise política no país.
Os países da OEA disseram que não reconhecerão o vencedor das eleições se antes o presidente deposto, Manuel Zelaya, não for restituído na Presidência de Honduras.
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