Estudantes espanhóis protestam contra altos índices de desemprego entre os jovens e aumento nas taxas de contribuição para bolsistas| Foto: AFP

Custos cada vez mais altos, aliados a uma crise econômica que torna difícil para os jovens conseguir o primeiro emprego e pagar as dívidas que contraíram para se formar, vêm tornando a universidade, caminho para a ascensão social, cada vez mais inacessível para as classes médias e trabalhadores de países tão díspares como a Espanha, os EUA e o Chile. As cenas vistas nesta semana no Quebec, no Canadá, onde jovens completaram cem dias de protestos contra o aumento nos preços das anuidades, se repetem em Madri e Santiago.

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Nos Estados Unidos, o montante das dívidas dos universitários pós-formatura atingiu no ano passado US$ 1 trilhão, e a tentativa de manter os juros para seu pagamento em patamares mais baixos é um dos poucos pontos a unir os discursos de Barack Obama e de seu adversário na eleição de novembro, Mitt Romney.

A formatura aciona uma contagem regressiva de cinco meses para o primeiro pagamento de saldos devedores que são, em média, de US$ 23,3 mil. Segundo dados do Departamento de Educação dos EUA, dois terços dos estudantes americanos se endividam para financiar seus estudos. O alto nível de endividamento significa, num mercado de trabalho em recessão, enormes dificuldades para começar a vida. Esperar anos, às vezes décadas, para ter acesso a um financiamento de carro ou de casa própria.

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Mark Kantrowitz, fundador do site FinAid.org, que já aconselhou mais de nove milhões de estudantes endividados, sugere uma conta antes de se contrair o empréstimo, considerando a possibilidade de remuneração em cada carreira. "Para uma carreira na área de humanas, por exemplo, costumo recomendar que a pessoa não faça uma dívida maior do que US$ 30 mil, porque será muito difícil pagá-la. Em áreas como engenharia, informática, medicina, o limite pode ser maior", diz.

Com os preços das anuidades subindo acima da inflação desde os anos 1980, o sonho do diploma universitário começa a ficar mais distante para os americanos de classe média. O presidente Barack Obama, ele mesmo um ex-endividado, aumentou o volume de financiamento federal para os estudantes em 60%. Obama e o candidato republicano, Mitt Romney, concordaram na defesa de uma prorrogação da redução da taxa de juros para o crédito universitário. Uma lei de 2007 cortou a taxa pela metade, para 3,4%, mas ela prevê que a redução expire no começo de julho. Apesar do apoio do presidente e de seu rival, no entanto, a revisão desse ponto está empacada no Senado. Na última quinta-feira, o Senado rejeitou duas propostas, para impedir o retorno dos juros de 6,8% anuais, uma medida que afetaria 7,4 milhões de estudantes.

Problema generalizado

A situação é piorada pela falta de perspectiva no mercado de trabalho para empregos que permitam pagar, poucos meses após a formatura, as primeiras parcelas da dívida. Na Espanha, o aperto de cinto provocado pela crise econômica teve a educação pública como uma das maiores vítimas. Os estudantes foram convocados a contribuir mais com o custo de seus estudos, mas com os pais subempregados e sem chance de conseguirem trabalho para eles mesmos, temem perder o esforço de anos de estudo e ter de deixar a universidade.

A situação se repete no Chile. Mesmo relativamente imune à crise, o país tem um sistema educacional herdado da ditadura que privilegia a elite. Filhos da classe trabalhadora saem da universidade endividados e encontram dificuldade para ingressar no mercado de trabalho com seus nomes na lista negra de devedores. Muitos estão recorrendo à vizinha Argentina, um oásis onde ainda vigora a educação gratuita e o sonho universitário ainda não virou pesadelo.

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