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Chaminé industrial de uma fábrica de cigarro em Paris, França, janeiro de 2021.
Chaminé industrial de uma fábrica de cigarro em Paris, França, janeiro de 2021.| Foto: BigStock

A poderosa indústria europeia, com destaque para a França e a Alemanha, enfrenta desafios que ameaçam seu protagonismo. A crise industrial, além de resultar em crise econômica, coloca a Europa em uma necessidade de reestruturar suas fontes energéticas e suas posições políticas. À medida que o inverno europeu se aproxima, novas ações da UE se tornam mais urgentes.

A crise começou antes dos conflitos geopolíticos decorrentes da guerra na Ucrânia. Há mais de dois anos, a pandemia de Covid-19 escancarou o fato de que a indústria farmacêutica francesa, por exemplo, já não era mais tão forte quanto antes, tornando-se altamente dependente de insumos chineses e indianos em plena crise sanitária.

Em seguida, a indústria automobilística europeia, sobretudo a alemã, que é historicamente destaque internacional, encontrou o obstáculo da falta de componentes eletrônicos, largamente produzidos na Ásia.

Agora, com a crise energética agravada pela guerra na Ucrânia e os desafetos diplomáticos da União Europeia com a Rússia, grandes indústrias internacionais fecham as portas no Velho Continente. 

O início e o futuro da crise energética 

Para John James Loomis, professor de Relações Internacionais da Universidade Positivo, o mundo entrou em uma crise energética quando começou a reabrir o comércio e as indústrias após o pico da pandemia. "Houve, em especial, o aumento da demanda da China por carvão, que elevou os preços do gás natural à medida que o país procurava alternativas, de modo que a recente crise energética na Europa já estava em andamento em 2021", argumenta.

O professor lembra que, naquele momento, a Rússia começou apenas a cumprir seus acordos contratuais de gás natural, em vez de atender ao aumento da demanda europeia. "A atitude foi vista como uma jogada da Rússia para aumentar ainda mais os preços do gás, mas, em retrospectiva, podemos pensar em uma preparação para a guerra na Ucrânia", analisa Loomis.

Usar o gás natural como arma geopolítica não é novidade para a Rússia e seus vizinhos da Europa Central e Oriental. Os projetos do gasoduto Nordstream foram, em parte, uma resposta a disputas energéticas de países como a Ucrânia com a Rússia, que posteriormente impactariam nos fornecimentos de gás da Alemanha e de outros países da Europa Ocidental.

Desde 2021, há uma redução de 60% no envio de gás russo para a Europa. O Fundo Monetário Internacional prevê que, no Leste Europeu, a situação pode ser a mais grave no continente, com uma diminuição do PIB de até 6%.

A redução da produção nos setores manufatureiros nessas economias teria efeitos em cascata para outros setores econômicos conectados e também consequências políticas.

"Em todo o continente, a população é geralmente mais a favor da paz com a Rússia do que de fazer justiça em relação à Rússia, o que significa que, à medida que os custos da guerra aumentam para os países europeus, fissuras na unidade europeia começarão a aparecer. Isso pode acontecer mais cedo ou mais tarde, com a chegada do inverno", alerta Loomis. 

A ameaça do inverno 

João Alcântara dos Santos, doutor em Geografia e professor do Centro Universitário Integrado de Campo Mourão, também destaca que a necessidade do uso de calefação no inverno europeu deverá escancarar ainda mais a crise energética e prejudicar as indústrias.

"É muito mais barato para os europeus importar o gás da Rússia por meio dos gasodutos. Isso reduz o custo de energia para a atividade industrial e facilita o crescimento econômico e a geração de empregos", aponta Santos. O gás produzido pelos Estados Unidos ou outros países (que servem como alternativa diante da chantagem russa) precisa ser transportado por navio, o que encarece o custo energético.

"Isso resulta em uma alta inflação. Se a energia é cara, o custo da produção vai ser maior e isso vai impactar a União Europeia, com risco de redução da produção industrial", alerta Santos.

Samir Bazzi, professor de Administração Financeira no UniCuritiba fala em uma destruição da indústria pesada na Europa e nas suas consequências econômicas. "Os fechamentos de grandes empresas podem trazer danos a longo prazo para a base industrial da Europa. E os economistas prevêem que o continente está prestes a entrar em uma profunda recessão", reforça Bazzi.

Ele destaca que a energia representa cerca de 26% dos custos da indústria metalúrgica, 19% da produção química básica, 18% da fabricação de vidro, 17% da produção de papel e 15% de uma indústria de materiais de construção. Essa alta em grande parte dos custos das fábricas força empresas a fecharem temporária ou definitivamente as portas. A Associação de Fertilizantes da Europa, por exemplo, divulgou que mais de 70% da produção de fertilizantes foi fechada ou desacelerada.

Uma das principais saídas apontadas por especialistas, e que já está em execução no Velho Continente nos últimos meses, é a troca de combustíveis. A Agência de Energia Europeia prevê que haja, neste ano, um crescimento de 7% no uso de usinas de carvão, por exemplo.

A Alemanha, a maior dependente do gás russo, teve que reabilitar usinas de carvão que tinham sido fechadas dentro de um projeto de sustentabilidade do país. Outras fontes renováveis só poderiam atender à alta demanda por energia a médio ou longo prazo.

Para o próximo inverno europeu, que começa em dezembro, o continente tem em estoque cerca da metade do que costuma ser necessário de combustível para atender à população em uma estação rigorosa (um consumo de cerca de 135  bilhões de m 3 de gás na UE).

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