Os cortes em serviços básicos para conter os efeitos da recessão espanhola aflorou o sentimento de independência na Catalunha e no País Basco. Entre as reivindicações contra as medidas de austeridade, os moradores dessas regiões clamam por autonomia em relação ao governo do primeiro-ministro Mariano Rajoy.
Os catalães e os bascos vivem em comunidades autônomas, com legislações independentes do governo central, em Madri. Ao lado da Galícia, esses territórios possuem línguas e identidades culturais completamente distintas da Espanha. Como pequenas nações dentro de um grande país.
A revolta contra as ordens do primeiro-ministro deu força aos movimentos nacionalistas dessas regiões. A Catalunha aprovou a proposta de um referendo para ver se a população quer a independência. No País Basco, a maioria dos parlamentares eleitos nesta semana é a favor da separação do governo espanhol.
Para que separação aconteça, no entanto, é preciso o aval do governo central. Algo que não deve acontecer, segundo Demetrius Pereira, professor de Relações Internacionais das Faculdades Rio Branco. "Juridicamente é difícil que essas regiões consigam independência. Seria preciso escrever uma nova constituição para a Espanha", explica.
A constituição espanhola, que data de 1978, foi escrita prevendo que os estados do país teriam certas autonomias, mas continuariam respondendo ao primeiro-ministro. Se quisessem criar novas nações, os bascos e catalães precisariam do apoio da comunidade internacional.
"Em média, os países não veem com bons olhos governos que decidem ter independência sem o apoio do país do qual se fragmentaram", explica Pereira. É o caso da Palestina, por exemplo, cuja condição de Estado ainda não é consenso entre os membros das Nações Unidas.
RestriçõesAlém das diferenças culturais, as comunidades catalã e basca costumam olhar para o governo central com desconfiança. "É como se imaginassem Madri como centralizadora", diz Gilberto Rodrigues, professor de Relações Internacionais das Faculdades Sta. Marcelina. Os cortes provocados por Rajoy, portanto, poderiam abrir espaço para restringir a autonomia já conquistada dessas regiões.
O governo de Francisco Franco (19391975) foi o símbolo dessa ameaça. Abolindo línguas como o catalão, o basco e o galego da Espanha, o ditador sufocou a identidade cultural dessas regiões em prol de uma única nação. É nesse contexto que surgiu a organização terrorista ETA (Pátria Basca e Liberdade), que defendia a independência dos bascos. Embora os atos de violência do movimento tenham acabado, os sentimentos separatistas persistem. E as crises econômicas os alimentam.