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Crise humanitária na Europa

Milhares de pessoas têm se aventurado numa perigosa jornada por mar e terra para chegar à Europa. Além dos refugiados, que sofrem perseguições ou fogem de conflitos armados, e que tudo indica são a maioria por lá hoje, somam-se os migrantes internacionais, pessoas que, por diferentes motivos (inclusive pelo subdesenvolvimento de seus países, cuja origem remonta à colonização europeia), decidiram buscar uma vida melhor em outro país. Hoje, estes dois grupos estão unidos pelas duríssimas condições que enfrentam para conseguir chegar e entrar no rico continente europeu.

Mas o que leva essas pessoas a passar por tudo isso? Seria a desordem no Afeganistão e Iraque, países que nunca se recuperaram das invasões ocidentais; a sanguinária guerra civil na Síria, que já dura cinco anos; a ascensão dos radicais do Estado Islâmico; os diversos conflitos étnicos e religiosos na África Subsaariana; ou ainda, a fome e a pobreza extrema de vários desses países? Logicamente, todos esses fatores combinados. Portanto, uma resposta adequada à tão complexa problemática não se limita apenas ao emergencial (e indispensável) salvamento dos náufragos no Mar Mediterrâneo. Resta saber quando a comunidade internacional, e a Europa em especial, passará a adotar medidas mais efetivas, através de robusta cooperação internacional, para ajudar a solucionar as graves questões que causam os deslocamentos, ainda nos países de origem.

Após as inúmeras e chocantes mortes dos últimos meses, incluindo a terrível foto da criança síria morta na praia, parece que há um esboço de reação. A chanceler Angela Merkel destoou de outros líderes europeus, ao abrir as portas da Alemanha para receber os solicitantes de refúgio, e pedir uma resposta mais eficiente e solidária dos demais membros do bloco. Há quem diga que o país é motivado pelas sombras do passado, e pela pujança de sua economia. Mas a liderança da Alemanha nesse caso é uma luz no fim do túnel, esperança de sensatez diante da vergonhosa situação a que se chegou, com a irresponsável cumplicidade dos governos de países que se dizem civilizados. Ao mesmo tempo, milhares de cidadãos europeus têm se organizado para protestar contra o fechamento das fronteiras, muitos se dispondo inclusive a receber refugiados em suas próprias casas.

O que está em jogo agora não é apenas uma crise momentânea, mas a necessidade de se repensar completamente a lógica clássica do Estado-nação. Na era da hiperconectividade, é preciso criar mecanismos mais efetivos de governança global e proteção dos direitos humanos, bem como sistemas políticos que atendam mais de perto às necessidades e aspirações humanas, independentemente de nacionalidades.

Por fim, o momento é oportuno para uma séria reflexão sobre a indiferença que marca nossos tempos. Pode parecer um problema distante, mas é bom lembrar o aumento considerável dos pedidos de refúgio e no número de imigrantes no Brasil, e o quanto se repetem por aqui atos explícitos de discriminação e violência gratuita contra cidadãos de outros países. Diante do erro alheio, ou se aprende, ou se erra também.

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