O governo cubano divulgou no domingo que pretende reduzir o número de funcionários no setor estatal e estimular o trabalho por conta própria. O anúncio vai ao encontro a outras medidas adotadas após a posse de Raúl Castro como Chefe de Estado, em 24de fevereiro de 2008. Desde que assumiu o poder, Raúl que é irmão de Fidel e já foi ministro da Economia de Cuba promoveu uma série de ações que tem por objetivo uma gradativa abertura econômica do país.
Para os analistas que acompanham a situação, já eram previstas algumas mudanças no modo de gestão da ilha, o que representaria um esforço interno para tornar a economia cubana mais autônoma. Mas isso não significa que Cuba deixará de ser uma nação socialista. "Eu vejo o fato como uma tentativa paulatina de aquecer o mercado interno, de instituir mudanças e, sobretudo, de sobrevivência do país", afirma Viviane Maria Zeni, professora do curso de História da Universidade Tuiuti do Paraná. Na opinião de Zeni, as medidas econômicas que já foram colocadas em prática não levarão à abertura total da economia e nem a uma democratização. "Vemos aí uma tentativa de manter o que sempre foi proposto, mas operacionalizado de outras formas", completa.
Jonas Pegoraro, professor de História do Colégio Positivo, destaca que Cuba vive uma grande crise econômica desde o fim do regime soviético, no início da década de 1980, e por isso busca formas alternativas para reverter a situação. Pegoraro faz questão de deixar claro que se tratam de mudanças meramente econômicas. "Essas medidas a conta-gotas, como a permissão para os barbeiros administrarem o próprio negócio, não significam exatamente uma abertura política, pois ainda há o controle do Estado sobre a maioria dos outros serviços oferecidos à população", explica o professor.
A intenção do Estado cubano, segundo Pegoraro, é desonerar a máquina, fazendo com que as pessoas busquem trabalho em outros setores. Mas numa economia socialista, onde grande parte das atividades estão sobre controle estatal, onde trabalharão essas pessoas? A pergunta ainda não tem resposta, mas é provável que a iniciativa recém-anunciada, num primeiro momento, cause desemprego e agrave ainda mais a crise econômica e social pela qual passa o país.
Em relação ao ritmo das mudanças, os especialistas se mantêm um pouco incrédulos. "As reformas que estão sendo realizadas no país caminham num ritmo mais lento do que o necessário, o que pode tornar mais difícil o enfrentamento dos problemas estruturais que a sociedade cubana vem apresentando", avalia Viviane Zeni. A professora ainda destaca que, apesar das medidas já anunciadas, o que se vê é apenas a continuidade de uma ideologia e um sistema de governo iniciado em 1959, na época da Revolução Cubana.