Os policiais da Turquia voltaram a tentar dispersar à força as cerca de 10 mil pessoas que continuavam concentradas ontem em uma praça de Istambul. Conforme a ONG Anistia Internacional, os enfrentamentos, que começaram na sexta-feira, já deixaram ao menos dois mortos e mais de mil feridos. Quase 2 mil pessoas foram presas.
Ao longo do domingo, os agentes se limitavam a impedir que os ativistas se aproximassem do escritório do premiê Recep Tayyip Erdogan, mas, depois, avançaram em direção à multidão, utilizando gás lacrimogêneo e jatos de água, causando ferimentos em várias pessoas.
A situação se tornou ainda mais tensa, com milhares de pessoas tentando resistir à pressão policial, sob um contínuo ir e vir de ambulâncias.
Em outros pontos de Ancara, médicos voluntários montaram pontos de primeiros socorros para atender os feridos e os afetados pela utilização em massa do gás lacrimogêneo. Os manifestantes seguiam cantando palavras de ordem para exigir a renúncia do governo, ao qual acusam de empregar métodos ditatoriais.
Também em Esmirna, terceira maior cidade turca, e em Adana, no sul do país, foram registrados confrontos com a polícia, que, como em Ancara, utilizou abundante material antidistúrbio. Os protestos nessas cidades começaram em solidariedade com as de Istambul, iniciadas na sexta-feira após o despejo de um parque público, ameaçado pela especulação urbanística.
O governo de Erdogan enfrenta uma das mais importantes ondas de protesto desde sua chegada ao poder, em 2002. Ontem, o premiê acusou o principal partido secular de oposição de estimular uma onda de protestos contra o governo. O premiê apontou o Partido Popular Republicano criado em 1924 por Mustafa Kemal Ataturk, que fundou o Estado secular moderno turco como responsável pelo que descreveu como uma disputa ideológica. "Nós achamos que o principal partido de oposição, que está fazendo chamados à resistência em cada rua, está provocando os protestos", disse Erdogan na tevê turca.
Chamando os manifestantes de "uns saqueadores", Erdogan congelou o plano de obras na praça Taskim, projeto que provocou as manifestações que se transformaram numa demonstração mais ampla contra seu partido de raízes islâmicas, Justiça e Desenvolvimento.
Ironia
O governo sírio aproveitou a crise turca para cutucar aqueles que há dois anos pedem a renúncia do ditador Bashar Assad. "Os pedidos do povo turco não merecem toda essa violência. Se Erdogan não é capaz (...), ele deve renunciar", disse Omran Zoabi, ministro da Informação sírio.