A crise no governo da Argentina, que se aprofundou com a renúncia de vários ministros da ala kirchnerista após a derrota do partido governista nas primárias legislativas do último domingo (12), levou o presidente Alberto Fernández a defender nesta quinta-feira (16) sua autoridade e afirmar que continuará a guiar o país como ele “achar conveniente”, enquanto avalia se aceita ou não os pedidos de demissão em seu gabinete.
“Ouvi meu povo. A arrogância e a prepotência não se aninham em mim. O governo continuará a ser administrado como eu achar conveniente. Foi para isso que fui eleito. Farei isso sempre convocando os argentinos para um encontro”, escreveu o presidente, que está no poder desde 2019, no Twitter.
Fernández pediu que a coalizão de governo ouça “a mensagem das urnas” e aja “com toda a responsabilidade”. “Temos que dar respostas honrando o compromisso assumido em dezembro de 2019, diante da sociedade. Este não é o momento de levantar disputas que nos desviem desse caminho”, afirmou.
O presidente argentino escolheu a rede social para se manifestar pela primeira vez após o conflito aberto na coalizão Frente de Todos na quarta-feira (15), quando ao menos cinco ministros colocaram os cargos à disposição do governante. Segundo a chefe da Secretaria Jurídica e Técnica do governo, Vilma Ibarra, Fernández ainda não aceitou as renúncias.
“Todas, como a composição do gabinete ministerial, estão sob sua consideração, e ele informará no momento em que tiver algo a dizer”, disse ela, uma das colaboradoras mais próximas do presidente.
A origem da crise data do domingo passado, quando as listas de pré-candidatos a deputado e senador da principal coalizão da oposição, Juntos pela Mudança, receberam mais votos do que as da governista Frente de Todos na maioria das províncias durante as primárias em que os cidadãos deveriam escolher os candidatos para as eleições legislativas de 14 de novembro.
Apenas três dias após a derrota, e de acordo com fontes oficiais, o ministro do Interior, Eduardo “Wado” de Pedro, e ao menos outros quatro ministros, todos membros da ala kirchnerista do governo, liderada pela ex-presidente e atual vice Cristina Kirchner, colocaram os cargos à disposição do presidente.
Em meio a um grande sigilo por parte do governo, esta situação alimentou inúmeros rumores sobre a luta de poder entre kirchneristas e albertistas dentro do peronismo.
Na quarta-feira, Fernández recebeu apoio público de alguns governadores provinciais e outras autoridades políticas e sindicais. Organizações sociais também haviam pedido uma manifestação em apoio ao presidente para esta quinta-feira, mas ela foi cancelada a pedido do próprio Fernández.
Deputada kirchnerista chama Fernández de “usurpador”
Com a crise em ascensão, um longo áudio atribuído à congressista kirchnerista Fernanda Vallejos foi divulgado à imprensa nesta quinta-feira. Nele, ela analisa a derrota de domingo e fez duras críticas a Fernández, a quem chama de “doente”, “usurpador” e “entrincheirado” e descreveu os ministros de sua influência como um “núcleo de inúteis”.
“Ele não entende que é um inquilino? A dona dos votos, da legitimidade, do apoio popular e da base de apoio deste governo e de quem o colocou lá é Cristina”, disse Vallejos, que foi além. “Ele não tem mérito próprio para estar sentado lá, então tem que fazer o que Cristina lhe diz que tem que fazer, porque Cristina é a representação da voz do povo argentino”, acentuou.
Fernández, que no início de 2019 aceitou a proposta de Cristina Kirchner de concorrer à presidência com ela como vice, é acusado por kirchneristas de ter feito uma “má política econômica” - subordinada ao Fundo Monetário Internacional (FMI) - e que isso levou o partido governista a perder as primárias do último domingo.
Em longa carta publicada no Twitter, na qual afirmou que entende como necessárias trocas ministeriais depois do desastre eleitoral, Cristina Kirchner lembrou a Alberto Fernández que foi ela quem propôs sua candidatura à presidência nas eleições de 2019 com ela como vice, e lhe pediu que "honre aquela decisão".
"Mas, acima de tudo, tomando também suas palavras e convicções, o que é mais importante que qualquer outra coisa: que ele honre a vontade do povo argentino", acrescentou.
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