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Entrevista

“Crise no Haiti é um desafio ao Brasil”

Detalhe da garrafa de whisky que foi vendida pelo equivalente a R$ 110 mil | Reprodução
Detalhe da garrafa de whisky que foi vendida pelo equivalente a R$ 110 mil (Foto: Reprodução)

Curitiba – Experiência. Com certeza esse quesito pesou bastante na decisão do governo brasileiro ao indicar o curitibano Igor Kipman, de 56 anos, para assumir o cargo de embaixador do Brasil no Haiti em 2008. Casado e pai de três filhos, Kipman participou da equipe que prestou apoio, em 2004, para a instalação do primeiro contingente militar brasileiro da Missão das Nações Unidas para Estabilização do Haiti (Minustah). De lá pra cá, visitou o país diversas vezes e acompanha os avanços da região na função de chefe da Divisão do México, América Central e Caribe do Ministério das Relações Exteriores do Brasil. Kipman, que ainda terá seu nome sabatinado pelo Congresso para o cargo, está em Brasília e concedeu entrevista à Gazeta do Povo por telefone. Confira os principais trechos.

Gazeta do Povo – Qual é a sua expectativa para assumir a Embaixada do Brasil no Haiti?

Igor Kipman – Com certeza é um grande desafio. O Haiti é um dos grande desafios da política externa brasileira. Fiquei muito honrado com a minha indicação ao cargo e pretendo manter o mesmo nível de trabalho que está sendo feito lá com o embaixador Paulo Cordeiro, que nos últimos 2 anos e meio fez um trabalho extraordinário. O Brasil tem uma participação fundamental no esforço internacional que está sendo feito para a recuperação do Haiti. O país tem o maior contingente militar da Minustah e o comando da força militar. Além disso, o governo brasileiro desenvolve um grande número de projetos de cooperação técnica no Haiti – nas áreas de agricultura, saúde, esporte, educação.

Como o senhor avalia os avanços alcançados pela Minustah desde 2004?

Houve avanços significativos em todas as frentes, principalmente na segurança – que era um problema gravíssimo e que atrapalhava todos os outros projetos. Em termos da redemocratização, apoiamos e ajudamos na realização da eleição presidencial no ano passado. Hoje se tem um governo absolutamente democrático e eleito pela maioria da população. O presidente René Preval faz um bom trabalho de composição com a oposição e está evoluindo bem diante do cenário complexo da política haitiana. Na parte econômica, o país mais pobre das Américas ainda precisa resolver o problema de desemprego, analfabetismo, etc. Esses problemas estão sendo atacados pelo governo haitiano, com o apoio de países e organizações internacionais. A Embaixada do Brasil, neste momento, é da maior importância porque temos um elenco de mais de 20 projetos de cooperação técnica com o Haiti.

Os recursos destinados para o Haiti têm sido suficientes?

Tem dito avanços nesse sentido. Claro, o Brasil não dispõe de todos os recursos, mas estamos começando a fazer no Haiti experiências novas. Pela primeira vez, o Banco Mundial financia um projeto em um país em desenvolvimento feito por outro país em desenvolvimento. Normalmente, os chamados países ricos têm acesso a esses recursos para ser aplicados em países pobres. Um projeto semelhante ao brasileiro Merenda Escolar está sendo aplicado no Haiti com verba do Banco Mundial.

Estamos colocando em prática as primeiras experiências de cooperação triangular, ou seja, com recurso canadense o Brasil desenvolve projeto de imunização infantil. Com verba espanhola, utilizamos em projetos de reflorestamento. É uma nova experiência de cooperação no mundo. É uma operação complexa, mas temos tido êxito.

Na medida do possível, a Agência Brasileira de Cooperação financia projetos menores com recursos limitados, como os de processamento de castanha de caju, de mandioca, etc. A Embaixada funciona no Haiti como um elemento de coordenação de tudo isso.

Há previsão de aumento do número de soldados no Haiti?

Acredito que não. Isso seria complexo e depende da autorização do Congresso. Por enquanto temos 1.200 soldados. O que talvez possa ser feito no futuro seria uma troca de parte da infantaria por pessoal da engenharia, ou do setor da saúde, porque existem muitas ações cívico-sociais. Seria importante ter mais pessoal. Poderia haver apenas essa substituição, mas aumento não se prevê.

Como o senhor avaliou as críticas da Organização dos Advogados do Brasil (OAB), que emitiu um relatório dizendo que a Minustah, liderada pelo Brasil, "é uma força de ocupação, e não humanitária"?

A equipe da OAB saiu do Brasil com conclusões prontas, o que é um erro metodológico. Os relatórios saíram prontos daqui. No Haiti, foram recebidos pelo presidente René Preval, por embaixadores e militares. Todos buscaram explicar a missão. Inclusive, René Preval disse que a Minustah está no Haiti porque ele pediu. Não mudaram nem uma vírgula no relatório da OAB após a visita ao Haiti. Não há muito a comentar.

Igor Kipman, chefe da Divisão do México, América Central e Caribe do Ministério das Relações Exteriores do Brasil

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