Na eleição sul-americana mais tensa para o Brasil, na Bolívia, há poucas chances de o presidente Evo Morales ser desbancado, com seus 57% de aprovação. A previsão é de que os bolivianos optem pela situação, chancelando a "revolução indigenista" que já deu lugar a uma nova constituição e enfatiza a propriedade nacional dos recursos naturais.
O aproveitamento rentável das riquezas do subsolo boliviano, porém, ainda é uma pendência do governo de Morales. Algo que a oposição não tardou em usar a seu favor. O ex-presidente Jorge Quiroga (2001-2002), da aliança de direita Poder Democrático Social, veio a público criticar o governo que prometeu mudança mas "se dedicou a perder mercados, dividir a Bolívia, corromper o Estado". "A Bolívia sempre foi muito rica em recursos mas nunca se industrializou, e continua tendo deficiência de quadros técnicos", avalia o historiador da UFRJ Daniel Chaves.
Outros nomes de candidatos confirmados são o empresário Samuel Medina e o ex-vice-presidente Victor Cárdenas.
A crise econômica também influencia o pleito no Chile, onde a coalizão de centro-esquerda Concertación deve sair do poder após 20 anos, em grande parte influenciada pelo desemprego. Conta também a crise política do próprio partido, que, pela primeira vez, ficou dividido na escolha do candidato, o ex-presidente Eduardo Frei. Não é de estranhar que tenha apenas 23% das intenções de voto, já que encerrou seu mandato, em 2000, com apenas 28% de popularidade.
O opositor Sebastián Piñera, com 35,5%, propõe mais eficiência no manejo da estrutura social criada pela antecessora, Michelle Bachelet. E também sua ampliação, com a criação de um programa de renda mínima.
O fato de ser empresário conta pontos a favor e contra ele. "O eixo da eficiência é sua força, porque alguns confiam em sua capacidade de gestão, mas outros não confiam nele justamente porque é empresario", diz o cientista político do Instituto Libertad José Manuel Izquierdo.
Já no Uruguai, que vem se recuperando bem da crise econômica, o partido governista enfrenta dificuldade para atrair a parcela mais pobre da população para o candidato que daria continuação a seu programa de governo, José Mujica.
O fato pode ter relação com um conservadorismo típico de épocas de contenção. "Em tempos de recessão econômica, há menos inovação política, mais conservadorismo. Até os países tendem a olhar mais para dentro, se tornam mais tradicionais e conservadores", aponta a especialista do US Institute of Peace Elizabeth Harper. As pesquisas dão vitória à coalizão governista Frente Amplio em segundo turno. (HC)