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Crise ucraniana escancara divisão histórica e ameaça domínio russo

Praça da Independência, em Kiev, palco da resistência dos ucranianos contra o governo | Marko Djurica/Reuters
Praça da Independência, em Kiev, palco da resistência dos ucranianos contra o governo (Foto: Marko Djurica/Reuters)
Yanukovich reivindica mais recursos da UE |

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Yanukovich reivindica mais recursos da UE

Putin quer manter a Ucrânia como parceira |

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Putin quer manter a Ucrânia como parceira

Com neve e temperaturas de até 11 graus abaixo de zero, milhares de ucranianos têm ocupado nos últimos dias a Praça da Independência, em Kiev, pressionando por mudanças no país. Parte da população não aceita que o presidente Viktor Yanukovich rejeite um acordo comercial com a União Europeia e pede sua renúncia. A pressão popular parece ter surtido efeito e na última semana o governo anunciou que o acordo será assinado em breve. Mais do que a cooperação entre países, porém, estão em jogo a herança cultural de um povo e o projeto de poder de uma das grandes potências mundiais, a Rússia.

A Ucrânia se tornou independente em 1991, mas muitos dos laços com a Rússia permaneceram intactos, seja por meio da parceria econômica, da logística para exportação de petróleo e gás natural, ou da relação cultural entre os dois povos. Fatores que ainda dividem a população ucraniana e fazem com que o governo relute em se aproximar dos países ocidentais.

Especialista em Geopolítica e Relações Internacionais, José Ricardo Martins diz que a Ucrânia é "um país fragilizado e vive uma realidade complexa, convivendo há séculos com divisões internas". Enquanto a parte leste do país tem sua história influenciada pelo império russo, o lado ocidental esteve mais próximo do império austro-húngaro e, por consequência, se sente mais "europeu".

"Para as elites do país é mais fácil voltar ao conhecido passado de relação com a Rússia, pois teriam as garantias de que sua estrutura oligárquica de organização política e econômica não seria abalada. Para a outra parte, a União Europeia é considerada símbolo de avanço e progresso, não podendo a Ucrânia perder a oportunidade de adesão ao bloco europeu", ressalta Martins.

Influência

Se para os ucranianos um acordo com a União Europeia representa avanço, para a Rússia do presidente Vladimir Putin, ele seria um golpe nas pretensões de ampliar a influência política e econômica. "A assinatura dos acordos com a UE certamente abrirá a Ucrânia para produtos europeus, assim como para a entrada do capital proveniente não mais da vizinha Rússia, mas de toda a Europa. A liberalização distanciará a Ucrânia dos seus vizinhos e parceiros históricos, enfraquecendo a Rússia no cenário mundial e dando início a um novo processo de integração da Ucrânia ao mundo", afirma Eduardo Saldanha, coordenador do curso de Direito da FAE.

Relação entre os dois países é complexa

Ao longo da história, Ucrânia e Rússia mantiveram relações complexas. Apesar das diferenças, o território ucraniano segue sendo estratégico para as pretensões econômicas e políticas dos russos. Professor de Relações Internacionais da Unisinos, Gabriel Pessin Adam afirma que ucranianos e russos "desenvolveram ao longo dos séculos padrões de amizade e inimizade que variam constantemente."

As disputas internas ucranianas geraram governos contrários e apoiadores da Rússia, o que sempre causou apreensão no governo russo. "Sem a Ucrânia, é impossível para Moscou conceber a restauração, ainda que em novas bases, de seu poder imperial", avalia Pessin. No aspecto econômico, o território ucraniano abriga importantes rotas de comercialização de petróleo e gás natural.

Balança

Para Eduardo Saldanha, da FAE, a aproximação da Ucrânia com a Rússia fortaleceria a União Eurasiana, bloco que reúne ex-repúblicas soviéticas como Bielorrússia, Cazaquistão, Quirguistão e Tajiquistão. "Essa parceria trará à Rússia uma maior liderança regional, vez que será uma das principais orientadoras de políticas e negociações comerciais da Europa", avalia Saldanha.

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