Praça da Independência, em Kiev, palco da resistência dos ucranianos contra o governo| Foto: Marko Djurica/Reuters

Cenários

Entenda o que pode mudar com a adesãoda Ucrânia à União Europeia:

Pró-acordo

Os defensores do acordo com a União Europeia acreditam que isso possibilitará maiores avanços ao país, fugindo da influência russa e do passado ligado à antiga URSS. Na prática, a Ucrânia poderá se abrir para produtos e capital europeu, distanciando-se política e culturalmente de suas raízes eurasianas. A Rússia, por sua vez, perderia um aliado importante no seu projeto de liderança política na Europa.

Antiacordo

O governo russo não assinou o acordo com a União Europeia alegando que é necessário um aporte financeiro maior por parte do bloco europeu. No entanto, pesou a pressão da Rússia, que tem na Ucrânia um parceiro estratégico. A aproximação com os russos possibilitaria maior interferência de Moscou nos rumos políticos e econômicos da Ucrânia e uma alteração na balança de poder europeu, que penderia para a Rússia.

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Derrubada

Símbolo do comunismo, estátua de Lênin vai se reduzindo a pedaços

Efe

A estátua de Lênin, derrubada por manifestantes radicais no centro de Kiev há seis dias continua no chão, onde pouco a pouco é reduzida a pedaços cada vez menores pela força de martelos. O monumento ao fundador da União Soviética está desde o último dia 8 junto ao alto pedestal que o sustentava, no boulevard central da Praça de Bessarábia, não longe do centro nervoso dos protestos de oposição, a Praça da Independência.

As autoridades da capital não recolheram a estátua de mármore vermelho do líder comunista, que está rodeada por dezenas de opositores ou simples curiosos na busca de uma lembrança em forma de pedra.

A estátua não tem rosto, já que a cabeça desapareceu pouco depois que um grupo de ativistas da oposição, com a ajuda de cabos de aço, conseguiu derrubá-la do pedestal. Também mal se distinguem os braços, e a figura de Lênin é irreconhecível, transformada em um tronco avermelhado, o mesmo da pedra com que se construiu o Mausoléu na Praça Vermelha de Moscou e guarda o corpo embalsamado do dirigente bolchevique.

Tensão

O clima pode ficar tenso hoje em Kiev. A Praça da Independência será palco de duas manifestações, de oposição e de apoio ao governo de Viktor Yanukovich. Partidários do presidente convocaram uma marcha de 200 mil pessoas para apoiar o governante e a política pró-Rússia. No mesmo local estão reunidos manifestantes da oposição, que defendem o acordo com a União Europeia e pedem a renúncia do presidente. Durante a semana forças policiais reprimiram os protestos e tentaram, sem sucesso, desocupar a praça.

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Yanukovich reivindica mais recursos da UE
Putin quer manter a Ucrânia como parceira

Com neve e temperaturas de até 11 graus abaixo de zero, milhares de ucranianos têm ocupado nos últimos dias a Praça da Independência, em Kiev, pressionando por mudanças no país. Parte da população não aceita que o presidente Viktor Yanukovich rejeite um acordo comercial com a União Europeia e pede sua renúncia. A pressão popular parece ter surtido efeito e na última semana o governo anunciou que o acordo será assinado em breve. Mais do que a cooperação entre países, porém, estão em jogo a herança cultural de um povo e o projeto de poder de uma das grandes potências mundiais, a Rússia.

A Ucrânia se tornou independente em 1991, mas muitos dos laços com a Rússia permaneceram intactos, seja por meio da parceria econômica, da logística para exportação de petróleo e gás natural, ou da relação cultural entre os dois povos. Fatores que ainda dividem a população ucraniana e fazem com que o governo relute em se aproximar dos países ocidentais.

Especialista em Geopolítica e Relações Internacionais, José Ricardo Martins diz que a Ucrânia é "um país fragilizado e vive uma realidade complexa, convivendo há séculos com divisões internas". Enquanto a parte leste do país tem sua história influenciada pelo império russo, o lado ocidental esteve mais próximo do império austro-húngaro e, por consequência, se sente mais "europeu".

"Para as elites do país é mais fácil voltar ao conhecido passado de relação com a Rússia, pois teriam as garantias de que sua estrutura oligárquica de organização política e econômica não seria abalada. Para a outra parte, a União Europeia é considerada símbolo de avanço e progresso, não podendo a Ucrânia perder a oportunidade de adesão ao bloco europeu", ressalta Martins.

Influência

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Se para os ucranianos um acordo com a União Europeia representa avanço, para a Rússia do presidente Vladimir Putin, ele seria um golpe nas pretensões de ampliar a influência política e econômica. "A assinatura dos acordos com a UE certamente abrirá a Ucrânia para produtos europeus, assim como para a entrada do capital proveniente não mais da vizinha Rússia, mas de toda a Europa. A liberalização distanciará a Ucrânia dos seus vizinhos e parceiros históricos, enfraquecendo a Rússia no cenário mundial e dando início a um novo processo de integração da Ucrânia ao mundo", afirma Eduardo Saldanha, coordenador do curso de Direito da FAE.

Relação entre os dois países é complexa

Ao longo da história, Ucrânia e Rússia mantiveram relações complexas. Apesar das diferenças, o território ucraniano segue sendo estratégico para as pretensões econômicas e políticas dos russos. Professor de Relações Internacionais da Unisinos, Gabriel Pessin Adam afirma que ucranianos e russos "desenvolveram ao longo dos séculos padrões de amizade e inimizade que variam constantemente."

As disputas internas ucranianas geraram governos contrários e apoiadores da Rússia, o que sempre causou apreensão no governo russo. "Sem a Ucrânia, é impossível para Moscou conceber a restauração, ainda que em novas bases, de seu poder imperial", avalia Pessin. No aspecto econômico, o território ucraniano abriga importantes rotas de comercialização de petróleo e gás natural.

Balança

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Para Eduardo Saldanha, da FAE, a aproximação da Ucrânia com a Rússia fortaleceria a União Eurasiana, bloco que reúne ex-repúblicas soviéticas como Bielorrússia, Cazaquistão, Quirguistão e Tajiquistão. "Essa parceria trará à Rússia uma maior liderança regional, vez que será uma das principais orientadoras de políticas e negociações comerciais da Europa", avalia Saldanha.