Desde os tempos de Hugo Chávez (1999-2013), a Venezuela ajuda a Nicarágua a manter um orçamento paralelo -parte com repasses em dinheiro, parte em petróleo -, gerido pelo presidente do país centro-americano, Daniel Ortega. A ajuda até há pouco se destinava ao Exército nicaraguense, ao fortalecimento da indústria local e ao custeio de programas de assistência social, que catapultavam a popularidade de Ortega. Segundo denúncias da imprensa opositora do país, porém, parte da verba ia para a família do mandatário.
O aporte de Caracas vem diminuindo nos últimos tempos, devido à grave crise econômica do país caribenho. Em 2015, caiu 43%; em 2016, mais 63%. Agora, corresponderia a menos de 20% do que já chegou a ser. Portanto, uma vitória de Nicolás Maduro no domingo (20) não sugere que essa situação se reverta.
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O opositor Henri Falcón afirmou que, caso derrotasse Maduro, interromperia essas doações "de natureza ideológica".
De fato, nos tempos em que o Socialismo do Século 21 de Chávez contava com mais adeptos na região, a Nicarágua era um aliado importante, um representante na conturbada América Central. Agora, com o regime venezuelano em ruínas e mais isolado, o auxílio à Nicarágua virou um fardo demasiado pesado.
Busca por alternativas
O autocrata Daniel Ortega já havia percebido que a deterioração da economia venezuelana o afetaria. Primeiro, buscou apoio dos chineses, vendendo a eles a concessão para a construção de um canal similar ao do Panamá. Ainda não iniciado, o canal causou polêmica, pois não só destruiria o principal lago que abastece Manágua como arrasaria aldeias indígenas e cidades menores.
A segunda opção de Ortega foi começar uma política de ajustes. O primeiro deles já falhou rotundamente. A reforma do sistema previdenciário e de saúde com um aumento de impostos, anunciada em 18 de abril, levou inicialmente universitários às ruas. O movimento logo se encorpou e se espalhou pelo país.
Repressão
A repressão a protestos já deixou 43 mortos, segundo o governo. Entidades de direitos humanos locais falam em 70, mais 30 desaparecidos. Após os incidentes do último fim de semana, o Exército, até então um dos pilares do orteguismo, alertou o governo de que não mais coibiria manifestantes. A Igreja, outra âncora presidencial, pediu que o governo se sentasse para dialogar com oposição, sociedade civil e empresariado.
Ortega aceitou participar das conversas, mas adiantou que não cederá ao grito das ruas, que pede sua renúncia. Ele é personagem da política da Nicarágua desde os anos 1970, quando integrou a Revolução Sandinista que tirou a dinastia Somoza do poder.
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Emergiu dali como líder da junta que governou o país nos primeiros anos de democracia, elegeu-se presidente, mas depois foi derrotado por Violeta Chamorro. Voltaria ao poder em 2007. Aos poucos, transformou-se em autocrata.
Agora, sob pressão da Igreja e do Exército, Ortega aceitou que uma equipe da Comissão Interamericana de Direitos Humanos visite a Nicarágua. Imagens mostram que, além das forças do Estado, atuam na repressão aos protestos milícias autointituladas Juventude Sandinista, que atuam com capuzes.
Em campanha, Maduro diz que seu "irmão Daniel Ortega tem sido vítima dos ataques do imperialismo", sem fazer menção ao fato de que o abandono da Nicarágua por Caracas é uma das molas da "primavera nicaraguense".
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