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Mulheres coletam lenha para cozinhar em Maiduguri, no estado de Borno, no nordeste da Nigéria, em fevereiro de 2022.
Mulheres coletam lenha para cozinhar em Maiduguri, no estado de Borno, no nordeste da Nigéria, em fevereiro de 2022.| Foto: EFE/EPA/AKINTUNDE AKINLEYE

Na semana passada, em Sokoto, Nigéria, uma jovem estudante universitária cristã foi apedrejada, espancada e queimada até a morte por uma multidão. Deborah Samuel Yakubu foi acusada de blasfêmia por, segundo os agressores, insultar o profeta Maomé em um grupo de discussão do WhatsApp. Alguns colegas da faculdade ficaram indignados por Yakubu agradecer a Jesus por ajudá-la em um exame. Para a multidão, a acusação de blasfêmia justificava matá-la.

Rapidamente, vídeos do ataque começaram a circular nas mídias sociais na Nigéria e em todo o mundo. Diante do atual cenário nacional, com uma eleição conflituosa que acontece no país em 2023 e sequestros generalizados, além de ataques terroristas no norte da Nigéria, o cruel assassinato de Yakubu gera comoção.

Infelizmente, ainda existem defensores dos ataques. Manifestantes violentos em Sokoto vandalizaram e incendiaram igrejas católicas no último sábado, enquanto pediam a libertação dos suspeitos do ataque a Yakubu. Em Maiduguri, no Nordeste do país, outra jovem cristã está enfrentando ameaças depois de ser acusada de postar blasfêmia nas redes sociais.

O mundo precisa conhecer e lembrar o nome de Deborah Yakubu. Ela era uma jovem que tentava obter uma boa formação acadêmica, brutalmente assassinada porque uma multidão não gostou do que ela disse. “Que Deus lhe conceda o descanso eterno e console sua família”, disse o bispo Matthew Hassan Kukah, da Diocese Católica de Sokoto.

Mas Deborah é apenas mais uma vítima das leis de blasfêmia que existem em todo o Norte da Nigéria, aplicadas pelos tribunais da sharia, a lei islâmica. Eles violam os direitos humanos à liberdade de expressão e religião garantidos pelo direito internacional e incentivam a terrível violência da multidão contra as minorias religiosas. Como no Paquistão, por exemplo, a violência na Nigéria é frequentemente coordenada rapidamente por meio das redes sociais para atingir indivíduos acusados ​​de blasfêmia.

O grupo terrorista que atormenta o Nordeste da Nigéria há mais de uma década é o Boko Haram. Junto com sua ramificação, o Estado Islâmico na África Ocidental, são responsáveis ​​pelo sequestro de meninas. Uma delas foi Leah Sharibu, sequestrada em 2018, que nunca foi libertada porque se recusa a negar a fé cristã. Sharibu completou 19 anos no sábado, 14 de maio, ainda em cativeiro.

A organização para a qual trabalho, a ADF International, apoia advogados nigerianos que lutam incansavelmente para livrar os cristãos do sistema judicial da sharia. É uma questão de vida ou morte. Sob a lei islâmica, os cristãos na Nigéria podem enfrentar a pena de morte por qualquer motivo, desde blasfêmia e apostasia até por se recusarem a aceitar casamentos forçados.

No Norte da Nigéria, os cristãos são uma minoria. Outras minorias religiosas também estão severamente ameaçadas. Mubarak Bala, um humanista, foi recentemente condenado a 24 anos de prisão pelo Tribunal Superior do Estado de Kano, por supostamente postar blasfêmias no Facebook, em 2020. Igualmente, Yahaya Sharif-Aminu, cantor sufi, foi condenado à morte por enforcamento, pelo mesmo motivo. Citando irregularidades processuais, a Suprema Corte reteve e anulou a condenação em janeiro de 2021, mas ele ainda luta contra um novo julgamento.

Assassinatos com base em alegações de blasfêmia ocorrem há décadas na Nigéria. No ano passado, Talle Mai Ruwa, um vendedor de água no estado de Bauchi, foi espancado até a morte e queimado.

As leis permitem e incentivam uma cultura de violência em um país cada vez mais dilacerado por tantas tensões. Enquanto a maioria dos muçulmanos, cristãos e outras minorias religiosas simplesmente desejam viver em paz, uma minoria de extremistas encontra cobertura das leis. A ação irregular do governo contra os agressores agrava a crise.

Embora os casos às vezes chamem a atenção do mundo, muitas vezes o Ocidente tende a ignorar as graves violações da liberdade religiosa que são uma característica regular da vida na Nigéria. O Tribunal Penal Internacional tem se arrastado nas investigações e nos processos de atrocidades cometidas no país. O promotor do tribunal foi fortemente criticado depois de se aproximar do governo nigeriano em uma visita ao país africano no mês passado.

Para piorar a situação, o Departamento de Estado dos EUA, sem nenhuma explicação, removeu a Nigéria da lista de países “preocupação especial” no ano passado, apesar das contínuas violações da liberdade religiosa.

A Comissão de Liberdade Religiosa Internacional dos EUA disse estar “chocada” com a decisão do Departamento de Estado e reiterou as críticas quando, em abril, divulgou o relatório anual sobre os piores violadores da liberdade religiosa.

A África Subsaariana é responsável por quase metade de todas as mortes por terrorismo. Apenas nos primeiros três meses deste ano, quase 900 cristãos já foram mortos em ataques violentos.

É hora de prestar atenção ao imenso sofrimento do povo da Nigéria. Quantos mais vão definhar na prisão, ser queimados até a morte ou decapitados antes que a comunidade internacional se levante em defesa da grande maioria dos nigerianos que querem a paz?

Os nigerianos que conheço, incluindo líderes religiosos e sociais, ainda têm esperança e passam seus dias trabalhando pela paz. É fundamental que a comunidade internacional forneça o apoio de que eles precisam para chegar lá.

Sean Nelson é consultor jurídico da ADF International para a liberdade religiosa global.

©2022 National Review. Publicado com permissão. Original em inglês.
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