Nas fotos acima, cerimônias de cristãos da Índia; abaixo, imagens da violência religiosa registrada em várias regiões do país.| Foto: Sucheta Das/Reuters

Entrevista

Como está a situação agora (dia 12/11) no país?

Está na mesma. De 7 mil a 8 mil cristãos migraram para outras regiões e há 11 mil pessoas em diferentes campos (de refugiados). Ninguém consegue ir às vilas. De 4 mil a 5 mil estão escondidos.

Quantos cristãos foram mortos?

Não é possível fazer uma estimativa.

Como ocorreu a morte do frei Bernard?

Em 26 de agosto, ele tentou fugir para a floresta às 23 horas mas foi pego e apanhou de um grupo de 10 ou 15 pessoas. Por isso foi hospitalizado em Bombaim e morreu um mês depois (devido a um coágulo no cérebro).

Outros padres foram mortos na ocasião?

Outros seis padres apanharam mas só Bernard morreu.

Você está em segurança?

Sim, porque estou em Bhubaneswar, capital de Orissa. Não temos autorização para ir às vilas, onde a situação é pior.

O senhor vê alguma solução para o problema?

Os grupos fundamentalistas hindus estão provocando a desinformação da população. Até que o líder deles se manifeste contra, isso vai continuar.

Por que os hindus não aceitaram a confissão dos maoístas?

Porque querem continuar destruindo e abusando de cristãos. Os cristãos não tiveram nada a ver com o crime, mas eles querem destruir os cristãos.

O governo e a Cruz Vermelha estão ajudando?

Até agora, a Cruz Vermelha não veio. Só enviou um pouco de ajuda.

O governo ajudou, mas com o mínimo. Estamos esperando algo acontecer.

Frei Ajay Singh, assistente social

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Regiões de maior incidência do fundamentalismo hindu
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Maior democracia do mundo, com 1,1 bilhão de habitantes, a Índia é palco, desde agosto, de perseguição a uma minoria. Os cristãos, que representam 2,3 % da população, estão no alvo de agressões por parte de hindus extremistas – também minoria dentro do conjunto de hindus, que são 80% da população.

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Ninguém sabe quantas pessoas já foram mortas, mas estima-se que sejam 500 os assassinatos, somados a milhares de conversões à força ao hinduísmo. Centenas de igrejas e casas foram queimadas e destruídas e nem religiosos foram poupados.

A violência está concentrada em regiões onde há maior concentração de fanatismo hindu: Orissa, principalmente, mas também Karnataka, Kerala, Madhya Pradesh, Uttar Pradesh e Jharkhand.

A matança começou no dia 24 de agosto, um dia após o assassinato do líder hindu Swami Laxamananda Saraswati em Kandhamal, distrito da região de Orissa. A autoria do atentado foi assumida por maoístas, mas os grupos hindus Vishwa Hindu Parishad e Sangh Parivar continuaram a perseguir cristãos.

Omissão

O que surpreende na grande democracia indiana é a omissão da polícia e do governo. De acordo com testemunhas, a violência ocorre em plena luz do dia, nas ruas, com a polícia olhando.

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Uma freira foi estuprada por um grupo em Kandhamal. O frei que tentou ajudá-la apanhou e foi besuntado com petróleo. Depois ela foi levada quase nua pelas ruas – na presença de dezenas de policiais. "A policia não ajuda os cristãos. É uma espectadora silenciosa", disse o diretor de treinamento profissional da ordem dos claretianos no distrito de Ranchi, frei Lord Maria Winner, à Gazeta do Povo.

Outra freira foi queimada viva em um orfanato de Bargarh.

O frei Bernard Digal apanhou de mais de dez pessoas e morreu um mês depois no hospital devido a um coágulo no cérebro.

Em carta que circula entre igrejas do mundo, um pastor evangélico pede socorro e fala de como escapou da morte – mas também aborda o assassinato de outros 30 pastores.

O governo da região de Orissa chegou a enviar um documento à Suprema Corte do país assegurando que a situação estava sob controle. Ao mesmo tempo, o distrito de Kandhamal barrou a entrada de qualquer pessoa.

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Mesmo tendo promovido uma investigação durante quatro meses que mostrou que não há casos de conversão forçada ao cristianismo (motivo alegado pelos hindus para a perseguição), o governo preferiu não adotar medidas enérgicas, em vista das eleições regionais que estão sendo realizadas no segundo semestre.

Enquanto isso, há relatos de que a minoria hindu que arma milícias já teria 1 milhão de soldados. "O governo é uma mistura de partidos locais com o partido hindu nacional. E não está contendo a violência", diz Winner. Para ele, a solução virá de hindus não-fundamentalistas, que são maioria.