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Primavera Árabe

Cristãos egípcios temem líder islamita

Manifestantes gritam slogans contra o Conselho Militar do Egito, em protesto na Praça Tahrir, do Cairo, depois das orações de sexta-feira | Mohammed Abed/AFP
Manifestantes gritam slogans contra o Conselho Militar do Egito, em protesto na Praça Tahrir, do Cairo, depois das orações de sexta-feira (Foto: Mohammed Abed/AFP)

Na pequena cidade egípcia de Azaziya, onde quase todos os moradores são cristãos, poucos duvidam de que praticamente todos os eleitores votarão em Ahmed Shafiq, que foi o último primeiro-ministro do ex-presidente Hosni Mubarak, na eleição presidencial deste fim de semana.

A candidatura de Shafiq foi motivo de desânimo pa­­ra muitos egípcios, que acre­­ditam que o veterano da­­ era Mubarak vai manter­­ o autoritarismo do antigo­­ regi­­me. Mas, embora alguns cris­­­tãos compartilhem al­­guns­­ desses temores, eles veem seu oponente na dispu­­ta como­­ alguém muito pior:­­­­ Mo­­ham­­med­­ Mursi, da Irman­­dade Mu­­çulmana, que, segun­­do te­­mores da minoria­­ cristã egíp­­cia, pode transformar­­ o­­ país num Estado islâmico.

"Nosso objetivo é um Es­­tado civil. Não vemos outra pessoa que possa garantir isso a não ser ele", declarou Montaser Qalbek, filho do líder da cidade, a respeito de Shafiq. No primeiro turno da eleição presidencial, realizado no mês passado e que reduziu os 13 candidatos ao cargo a apenas dois, Shafiq recebeu quase todos os 4,5 mil votos de Azaziya, cidade localizada na província de Assiut, sul do país. Qalbek disse esperar que mais que o dobro desse número de eleitores vá às urnas agora, e que a maioria escolherá Shafik.

A escolha deve ser a mesma em toda a comunidade cristã, que representa 10% dos 81 milhões de egípcios. Muitos cristãos veem seu voto como uma clara opção entre um Estado secular e um no qual a agenda islâmica lentamente se enraíza.

Líderes da Igreja Copta Ortodoxa, à qual pertence a maioria dos cristãos egípcios, e ativistas cristãos vêm trabalhando duramente para levar os eleitores da comunidade às urnas, disse Yousef Sidhom, editor do jornal semanal Watani e representante da Igreja Copta.

Embora tenham sido cautelosos em tratar do assunto no púlpito, os padres e congregados influentes têm expressado apoio a Shafik durante atividades ligadas à igreja, informaram Sidhom e outros cristãos.

Os cristãos que votam apoiam Shafiq porque te­­mem­­ a "agenda oculta" da­­ Ir­­man­­dade, afirmou Si­­dhom.­­­­­­ "Há uma estratégia da­­ Irmandade de trabalhar pa­­ra construir um país islâmi­­co."

Sidhom disse que há temores de que a Irmandade mantenha os cristãos fora dos principais cargos políticos, taxe os não muçulmanos, torne o Islã a base da educação e crie uma política externa que favoreça países muçulmanos em relação a não muçulmanos.

Há tempos a Irmandade afirma que não vai discriminar os cristãos Durante a campanha para o segundo turno, Mursi prometeu aos cristãos que eles terão direitos iguais aos dos muçulmanos e que pode escolher um cristão como um de seus vice-presidentes.

A campanha já se acirrou, refletindo o que pode ser uma corrida apertada. Mursi e Shafiq obtiveram, cada um, cerca de um quarto dos votos no primeiro turno, com uma leve vantagem para Mursi.

Mursi tenta atrair muçulmanos moderados e seculares como a opção aos temores de uma política como a de Mubarak e de um Estado apoiado pelos militares se Shafiq vencer.

Shafiq, ex-militar como Mubarak, alimenta o medo em relação à Irmandade. "A Irmandade representa a escuridão e o sigilo", disse ele em sua primeira coletiva de imprensa após o anúncio dos resultados do primeiro turno. "Eles não querem nos levar para 30 anos atrás, mas de volta para a idade das trevas."

A mensagem ressoa entre os cristãos. Eles já se sentem inseguros com a morte recente de seu líder, o papa Shenouda III, no momento da ascensão dos islamitas e da falta de segurança em todo o país, com uma onda de violência sectária.

Num gesto de solidariedade, líderes da Irmandade participaram da última celebração de Natal liderada por Shenouda, em 2011, e em seu sermão o papa disse que os coptas e os islamitas deveriam trabalhar juntos pelo bem do Egito. Mas o fato não alterou a desconfiança dos cristãos em relação à organização.

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