Uma multidão de jovens avança decidida pela avenida debaixo de uma garoa constante agitando bandeiras, batendo tambores, soltando fogos de artifício e distribuindo panfletos. Não estão "indignados" como muitos de sua geração na Espanha, Itália, Estados Unidos ou outros lugares onde grupos protestam contra o mercado financeiro e os governos. Esses jovens argentinos gostam do atual governo e querem que ele se torne ainda mais poderoso.
A presidente Cristina Fernández de Kirchner deve vencer com facilidade as eleições deste domingo. Pesquisas de opinião indicam que ela pode ser reeleita já no primeiro turno, consolidando o apoio que tem no Congresso contra a dividida oposição.
A chave para a sua vitória na disputa é uma geração que não tinha sequer nascido durante a sangrenta ditadura (1976-1983), cujo legado delineou quase todos os aspectos da visão política de Cristina.
Ela conquistou essa nova geração ao encorajá-la a tentar mudar o mundo, como os ativistas de sua geração pensaram que poderiam fazer antes do último golpe militar na Argentina silenciá-los e darem início a um banho de sangue que matou, segundo dados oficiais, 13 mil pessoas e provocou um retrocesso na democracia do país.
"O mundo todo está assombrado na Argentina com a incorporação dos jovens à política", disse a presidente. "Não devem se surpreender de forma alguma, porque quando renasce a utopia é lá que os jovens estão."
Pesquisas eleitorais mostram que o apoio mais forte a Cristina, de 58 anos, está em dois grupos. Um deles é formado por pessoas como Cristina, que tinham 20 e poucos anos em 1976 e viram como um conflito armado abriu caminho para um estado patrocinado pelo terror. Do outro fazem parte pessoas que tinham essa mesma idade durante o golpe seguinte à sociedade argentina, a crise financeira de 2001, que quase destruiu a economia do país.
Manter esses eventos frescos na memória tem sido essencial para o modelo de governo que ela e seu marido, Néstor Kirchner, iniciaram quando ele foi eleito pela primeira vez em 2003. Ela invoca esses capítulos sombrios da história do país em quase todos os seus discursos de campanha, convocando velhos inimigos, apresentando-os como novas ameaças enquanto apaixonadamente promete que seu governo vai proteger o país contra eles.
Kirchner também fez isso, antes de morrer repentinamente de ataque cardíaco em outubro.
"Com o colapso de 2001, a mensagem de nossa geração é que temos de nos sacrificar", disse Sebastian Zabalia, 30 anos, formado em marketing, cujo grupo Militancia Kreativa reúne artistas que apoiam a presidente. "Quando nós começamos a entrar no mercado de trabalho nos dizem: todos os sonhos que vocês têm vão acabar Não sonhem mais. dois anos mais tarde, um cara aparece e nos diz: Eu vim propor um sonho a vocês. E ele não para por aí. É inevitável que você se envolva neste projeto."
A Argentina tem registrado seu período mais longo de governos democráticos desde que uma série de golpes de estado teve início em 1930, além de um dos períodos de maior crescimento econômico.
Com grandes gastos para encorajar o consumo e manter o crescimento econômico em cerca de 8% ao ano, o governo de Cristina diz que reduziu o desemprego de 20% em 2003 para 7% nos dias atuais, e a pobreza de 54% para 8% neste ano.
Os Kirchner encorajaram os sindicatos e empresas a negociarem salários mais altos, implementaram a ajuda financeira para crianças de baixa renda, elevaram as aposentadorias e destinaram milhões em subsídios para manter os transportes e serviços públicos acessíveis.
Segundo blogueira, Kirchner retirou a Argentina do buraco
Muitos jovens argentinos foram diretamente afetados pelos problemas econômicos de 2001, quando milhares de pessoas foram para as ruas protestar com a desvalorização cambial e a inadimplência, que provocaram um desemprego crescente.
Uma jovem que usa o apelido de "La Pipi" em seu popular blog pró-governo, disse que apoia Cristina porque os Kirchner resgataram o país do colapso econômico.
Ela se recusou a fornecer sua identidade porque trabalha numa grande companhia e teme se demitida por usar o Twitter e seu blog para desafiar a oposição.
"Eu vivo num bairro de casas pobres e muitas pequenas fábricas", diz a jovem de 36 anos explicando como recrutou outros blogueiros numa feira de ciências.
"E eu vi pessoas baixarem suas janelas e as ruas ficarem cheias de jovens se drogando por causa da crise de 2001. Mais tarde, eu vi as pessoas abrindo suas janelas de novo e seus filhos já não estão mais lá, mas agora trabalham nas fábricas".