A presidente argentina Cristina Kirchner decidiu manter a agenda e apareceu nesta quarta-feira (28) pela primeira vez desde que, na véspera, a Casa Rosada tornou público que ela sofre de câncer na tireoide. Em reunião com governadores em Buenos Aires, agradeceu o apoio e chegou até a brincar com Hugo Chávez, que também se trata de câncer, e com seu vice, Amado Boudou, que assumirá a Presidência durante 20 dias.
"Quero agradecer por todas as mostras de solidariedade, de carinho e afeto de todos os argentinos. Vamos seguir com a mesma força de sempre", afirmou Cristina para depois, olhando para Boudou, dizer: "Cuidado com o que você vai fazer. É uma brincadeira, mas levem a sério".
Depois, ao contar que recebeu ligações de outros líderes latino-americanos, como Chávez e a presidente Dilma Rousseff, afirmou: "Vou brigar pela presidência honorária do Congresso dos que venceram o câncer".
Segundo a Casa Rosada, Cristina, de 58 anos, continuará as atividades normais até o dia 4 de janeiro, quando passará por uma cirurgia para retirada da glândula tireoide, onde foi detectado o tumor. Nesta quarta-feira, participaria de outro ato, com militares, também na Casa Rosada.
Segundo o secretário da Comunicação Pública, Alfredo Scoccimarro, até agora os médicos não constataram metástase no caso de Cristina. As chances de cura, segundo especialistas, são superiores a 90%. "Foi detectado um carcinoma papilífero no lobo direito da glândula tireoide. Até agora, não houve comprometimento dos gânglios linfáticos nem foi detectada existência de metástase. A localização da doença está restrita à glândula", disse.
O carcinoma papilífero, detectado em Cristina, é o tipo mais comum de tumor na tireoide, respondendo a 80% dos casos de câncer nesta glândula - localizada na parte dianteira do pescoço e responsável pela produção de hormônios como o T3 e o T4, que regulam o metabolismo do corpo humano. A causa deste tipo de doença ainda é desconhecida, mas pesquisadores acreditam que esteja ligada a questões genéticas. Este tumor tende a progredir lentamente, mas pode se espalhar pelos gânglios linfáticos e outras partes do corpo. Em geral, costuma ser tratado com bons resultados, e há muitos poucos registros de casos fatais.
"Se tudo for assim como diz o informe oficial, não deveremos ter maiores problemas", disse o oncologista Mario Bruno ao canal de televisão TN. "Parece que a doença está localizada".
Diretor do Centro Oncológico de Rosário, o médico Miguel Muñoz concorda, garantindo que se trata de um "tumor absolutamente curável". "Os pacientes não morrem por isso. Eles são operados e, depois, submetidos a tratamento complementar com iodo (radioativo) caso reste alguma célula cancerígena", explicou.
A Casa Rosada afirmou ainda que, após a cirurgia - que será realizada no Hospital Austral pelo chefe do departamento de cirurgia, Pedro Saco - Cristina ficará internada por 72 horas, e em seguida iniciará a licença de 20 dias para se recuperar. Enquanto isso, manterá sua rotina normalmente, e já anunciou uma agenda cheia para esta quarta-feira.
Além de Cristina, que assumiu há 20 dias seu segundo mandato na Presidência da Argentina, outros líderes latino-americanos já enfrentaram ou continuam lutando contra a doença. O presidente venezuelano, Hugo Chávez, anunciou em junho sofrer de câncer, sem nunca ter especificado exatamente o tipo. Ele já passou por quimioterapia e diz estar curado. Por sua vez, o presidente do Paraguai, Fernando Lugo, foi curado este ano de um câncer linfático, após receber tratamento em São Paulo. Antes de se tornar presidente, em 2009, Dilma Rousseff também lutou contra um câncer linfático. Atualmente, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva passa por tratamento contra um câncer na laringe.
Dilma inclusive telefonou, na tarde desta quarta-feira, para Cristina Kirchner, desejou sorte à colega e disse ter certeza de que ela terá força necessária para enfrentar este momento difícil. Quando teve câncer, Dilma era ministra da Casa Civil, submeteu-se a quimioterapia e teve alta em setembro de 2009. No ano seguinte, disputou e venceu a eleição presidencial.