Buenos Aires Um levantamento feito pela revista semanal argentina Noticias com base em dados oficiais e estimativas de custos revela que a campanha presidencial de Cristina Fernández de Kirchner já consumiu mais de 130 milhões de pesos (US$ 41,1 milhões) desde seu início, maior parte dos quais saiu dos cofres públicos.
A legislação argentina estabelece 40,5 milhões de pesos (US$ 12,8 milhões) como gasto máximo. O dinheiro deve ter como origem o fundo partidário e doações de pessoas físicas e jurídicas. Em caso de irregularidades, só sofrem sanções o tesoureiro e o presidente do partido, e não os candidatos.
A campanha de Cristina é alvo de uma denúncia de malversação de fundos públicos, feita pela coligação do candidato oposicionista Roberto Lavagna, que questiona, entre outros gastos, os que custeiam as viagens da primeira-dama.
Desde fevereiro, Cristina esteve 40 dias fora da Argentina em encontros com mandatários e empresários estrangeiros que são usados em sua propaganda de campanha. A última dessas viagens foi ao Brasil e teria custado US$ 20 mil.
A cada viagem da primeira-dama, o presidente Néstor Kirchner emitiu decretos determinando que o Ministério das Relações Exteriores deveria assumir os custos. Embora a organização não-governamental Poder Cidadão requisite desde fevereiro o detalhamento dos gastos das viagens, o governo não os forneceu até hoje.
A Noticias, porém, estimou em mais de US$ 4,8 milhões o custo dessas viagens, entre passagens, hospedagens para a comitiva e uso de satélites para transmissão ao vivo de atos da primeira-dama no exterior.
A revista também computou como gastos de campanha da candidata os US$ 19,9 milhões a mais despendidos com publicidade oficial neste ano eleitoral.
Embora não confirme os cálculos da revista, o chefe-de-gabinete de Kirchner, Alberto Fernández, um dos coordenadores da campanha da primeira-dama, justifica o fato de o governo financiar viagens de Cristina, afirmando que é "impossível dissociar a primeira-dama da candidata.
O uso da máquina feito por Cristina não é só financeiro. Candidata oficial desde julho e a duas semanas da eleição, ela não nomeou uma equipe especial para sua campanha. Usa para isso dez funcionários do governo em tempo integral, entre eles o porta-voz presidencial Miguel Núñez, que sempre acompanha a primeira-dama, além de ministros e embaixadores. Segundo a revista, o uso desse pessoal na campanha representa mais US$ 1,6 milhão.
Quatro pesquisas divulgadas ontem pelo jornal Perfil apontam que ela tem entre 45% e 58% dos votos válidos, o que pela legislação argentina seria suficiente para ser eleita no primeiro turno.