De olho nas eleições presidenciais de 2015 - e com receio do que possa vir a acontecer com o seu vice, Amado Boudou, acusado judicialmente de corrupção -, Cristina Kirchner escolheu o ex-governador Gerardo Zamora, aliado político de sua confiança, para a vice-presidência do Senado argentino.
O senador se torna assim o segundo na linha sucessória do país, já que o comando do Senado, na Argentina, também é função do vice-presidente da República.
A escolha por Zamora, que governou por dois mandatos consecutivos a província de Santiago del Estero, gerou atrito com a principal força política que compõe a coalizão governista Frente para a Vitória (FpV), o Partido Justicialista (peronista).
Zamora é um "radical K", como são chamados os dissidentes da legenda opositora UCR (União Cívica Radical) que se aliaram ao governo Kirchner. Em 2007, quando foi eleita pela primeira vez, Cristina teve como vice um "radical K", Julio Cobos.
Mesmo os senadores governistas que fizeram críticas nos bastidores acataram a decisão da mandatária, e Zamora foi eleito nesta sexta (28), em votação no Senado, por 57 votos a favor e 12 contrários.
O vice-presidente do Senado assume o comando das sessões sempre que o presidente da Casa estiver ausente. Nos bastidores, ele também é um forte interlocutor da Casa Rosada com os senadores do bloco governista.
A escolha de Cristina, anunciada de última hora - até a noite de quinta-feira (27), a senadora Beatriz Rojkés de Alperovich seria reconduzida ao cargo -, segundo analistas consultados, tem como principal objetivo mandar um recado ao Partido Justicialista, que já começou a se organizar para tentar impor um candidato presidencial.
As mensagens são que Cristina participará efetivamente da escolha de seu sucessor e que o kirchnerismo continuará.
"Nem todo o Partido Justicialista está junto com a Frente para a Vitória. E a presidente demonstra que quer alguém mais próximo ao kirchnerismo em sua linha sucessória. E Zamora tem densidade política e já faz parte da estrutura do governo", diz Roberto Bacman, do Centro de Estudos de Opinião Pública.
Dentro do PJ, o nome do governador de Buenos Aires, Daniel Scioli, que foi vice-presidente de Néstor Kirchner, é o mais forte até o momento para a sucessão presidencial de 2015.
"A opção de Cristina por Zamora ratifica que ela fará todo o possível para que Scioli não seja seu sucessor. E mostra que, inclusive, poderia escolher um candidato não peronista. Ela está mandando um forte sinal ao peronismo kirchnerista, que já conta com muitos governadores apoiando Scioli", afirma Patricio Giusto, da consultoria Diretório Político.
Na mira da Justiça
O vice-presidente argentino, Amado Boudou, está sendo acusado de corrupção por supostamente ter salvado da falência a gráfica Ciccone (hoje rebatizada de Companhia de Valores Sudamericana).
A Ciccone teria recebido aportes financeiros de uma empresa ligada a Boudou quando ele era ministro da Economia no primeiro mandato de Cristina Kirchner.
Recuperada financeiramente, a gráfica ganhou um contrato com a Casa Rosada e passou a imprimir cédulas de cem pesos.O vice também é acusado de enriquecimento ilícito.