Buenos Aires A Argentina poderia eleger a primeira mulher presidente na era democrática. São cada vez mais fortes os sinais de que a primeira-dama e senadora Cristina Fernández de Kirchner, de 53 anos, seria a candidata oficial nas eleições presidenciais de outubro próximo. Eleito em abril de 2003, com mandato de quatro anos, o presidente Néstor Kirchner, de 56 anos pode ser candidato à reeleição, segundo a Constituição argentina. No entanto, apesar de desfrutar de mais de 60% de aprovação popular, o presidente parece ter dúvidas sobre sua reapresentação ao pleito eleitoral.
"Kirchner está convencido de que a mulher dele poderia ser a melhor opção para aprofundar o movimento que está fundando dentro do Partido Justicialista (PJ), que é o kirchnerismo", explica o analista Hugo Haime. Com a esposa na Presidência, nos próximos quatro anos, "Kirchner consolidaria o novo movimento e voltaria a candidatar-se em 2011", conjectura. Haime reconhece que a aposta é um risco porque a gestão de Cristina poderia não ter tanto sucesso como a de seu marido, que exibe crescimentos econômicos médios de 9% ao ano. Mas se der certo, "seria uma forma de Kirchner perpetuar-se no poder", avalia.
A lógica é simples: primeiro alterna a cadeira presidencial com sua mulher, garantindo assim, pelo menos, quatro mandatos subseqüentes; depois, renova as candidaturas com nomes de seu movimento. Porém, "como ocorre em toda jogada política, essa estratégia de Kirchner é arriscada, mas ele só tem pontos favoráveis até o momento", afirma o analista Carlos Fara.
Em alta
A avaliação é de que nenhum presidente argentino deixou o governo com uma imagem positiva. Kirchner será o primeiro e isso cria um antecedente a seu favor muito importante. Se ele se arriscar a um segundo governo, talvez não consiga terminá-lo com um índice de popularidade tão alto como ocorrerá ao final de sua gestão atual. "Os segundos períodos são sempre desgastantes, e isso ocorre em todo o mundo", raciocina Fara.
Como o cenário para a candidatura de Cristina é tão favorável, a grande interrogação diz respeito à demora do presidente em anunciá-la. Kirchner tem até o final de junho ou meados de julho para decidir. Até lá, vai fazer campanha para ver até onde cresce a intenção de voto de Cristina. Segundo a média das pesquisas, Kirchner detém 60% da intenção dos votos e Cristina, 50%. Muito abaixo, aparece o deputado do partido PRO (Propuesta Republicana), Maurício Macri (o dono do clube de futebol Boca Júniors), com cerca de 10%, seguido por Elisa Carrió (uns 8%), do ARI (Alternativa por una República de Iguales), e logo depois o ex-ministro de Economia, Roberto Lavagna, com magros 4%.
Enquanto isso, o presidente aproveita para fazer decolar a candidatura de sua mulher. A senadora acaba de concluir, na sexta-feira, a viagem internacional de lançamento de sua imagem como candidata. Imitando a mitológica Eva Perón (a Evita) em 1947, a esposa do presidente passou quatro dias em Paris, em missão oficial, representando o Poder Executivo. A ida a Paris foi a estréia de Cristina como virtual candidata do presidente, com direito ao acompanhamento do chanceler Jorge Taiana e do próprio porta-voz da Casa Rosada, Miguel Núñez, como todo o esquema de comunicação que é montado para as viagens presidenciais.