Análise
Nasce a era do "Cristinismo"
Buenos Aires - Nada de peronistas, justicialistas ou kirchneristas. A onda na Argentina agora é o "Cristinismo". Com a vitória esmagadora de Cristina Kirchner, ontem, a viúva de Néstor Kirchner consolida o poder que começou a crescer logo após a morte do marido. Nos palcos argentinos, a popstar Cristina arranca choros, cantos, gritos, vibração, abraços e olhares cúmplices, como ocorreu no Teatro Coliseo, no encerramento da campanha, nesta semana.
Pronta para iniciar um novo mandato de quatro anos, sozinha, sem apoio do marido e mentor político, Cristina colocou no bolso os caciques peronistas (Partido Justicialista) e os dissidentes; obrigou à resignação os radicais da União Cívica Radical, partido que costumava polarizar as eleições com os justicialistas; neutralizou qualquer oponente; e conquistou a simpatia de mais da metade dos eleitores argentinos.
A super-heroína Cristina capitalizou tão bem os bons indicadores da economia e o luto rigoroso que guarda há quase um ano, que sua reeleição não dependeu do apoio de governadores, tampouco tornou-se refém de nenhum outro líder. A campanha chegou a ser apática, sem graça, sem o habitual clima de euforia e humores acalorados que costumam acompanhar as retas finais de eleições. Tudo isso não foi obra de nenhum milagre, apenas pragmatismo reforçado por uma "incompetência desleal" da pulverizada oposição.
Bom para Cristina, ruim para o país, já que a cômoda situação do governo alimenta a tentação da concentração de poder absoluto, que era prática comum do kirchnerismo, o movimento político do casal Kirchner, iniciado por Néstor, em 2003. Ninguém duvidava de que o poder de fato no governo de Cristina era do marido. Mas no último ano de gestão sem a presença frontal dele, Cristina mostrou-se tão hermética, isolada e contundente para tomar decisões quanto era o ex-marido.
O modus operandi de aniquilar tudo o que possa representar resistência à hegemonia governista foi tão consistente na hora de armar as listas de candidatos quanto nos tempos de Néstor. Os analistas, que se equivocaram grosseiramente em antecipar o fim do casal nas eleições parlamentares de 2009, se mostram agora cautelosos em projetar o que se pode esperar do novo governo de Cristina. Porém, observadores mais agudos e menos comprometidos com a política local atestam facilmente que o estilo de poder absoluto será conservado, especialmente por causa da inábil oposição, cuja recuperação ainda está muito longe de ser iniciada, se é que isso é possível. Salvo se as turbulências internacionais tiverem repercussões desastrosas na economia argentina. (AE)
A presidente argentina, Cristina Fernández de Kirchner, obteve ontem sua reeleição ao vencer as eleições com 55 por cento dos votos, segundo uma pesquisa de boca-de-urna encomendada pelo governo. O governador socialista de Santa Fe, Hermes Binner, ficou em segundo, com 15 por cento dos votos, de acordo com a sondagem realizada com base em 30 mil entrevistas os votos estavam sendo apurados até o fechamento desta edição. Segundo o jornal argentino Clarín, Cristina ganhou com 40 pontos percentuais de diferença para o segundo colocado. Essa seria a maior diferença que já registrada na história argentina entre o primeiro candidato e o segundo desde 1916.
Confirmada no cargo, a presidente deve receber um forte apoio popular para continuar suas políticas intervencionistas, que a maioria dos argentinos aprovam, mas que geram fortes críticas de empresários e investidores. Cerca de 28,8 milhões de pessoas estavam habilitadas para votar nas eleições em que, além do presidente e vice-presidente, serão eleitos nove governadores provinciais, 130 deputados e 24 senadores.
Cristina emitiu seu voto às 11h43 da manhã (12h43 de Brasília), em uma escola de Río Gallegos, província natal do ex-marido, Néstor Kirchner, onde se encontra a residência oficial da família. Diante de uma multidão que a esperava para votar, além de dezenas de profissionais de imprensa, Cristina cumprimentou cada um dos mesários e assistentes, fez pose para os fotógrafos ao votar e passou vários minutos posando para fotografias com os fãs.
O socialista Hermes Binner votou em Rosario, capital da província de Santa Fe, governada por ele. Confiante em obter um resultado acima de 15%, máxima projeção de intenção de votos conforme as pesquisas, Binner afirmou, ontem, que "é preciso ver o resultado primeiro, antes de falar".
Maioria
A eleição permitiria que o bloco peronista liderado por Cristina recupere o controle do Congresso, com maioria própria ou com a ajuda de aliados. Ao votar na província de Santa Cruz, a presidente defendeu suas políticas, dizendo que o país obteve um crescimento sólido em meio à turbulência econômica global. "Quando você olha o que está acontecendo no mundo, pode se sentir muito orgulhoso por ser argentino", disse ela, vestida de preto.
Cristina Kirchner, que deu ao Estado um papel determinante na economia, sofreu baixos níveis de aprovação e protestos enfurecidos de agricultores e eleitores de classe média no começo de seu mandato. Mas a morte repentina do marido Nestor há um ano provocou a solidariedade do público, que lhe deu impulso nos níveis de aprovação, que ela vem conseguindo manter. Segundo a lei eleitoral argentina, os candidatos têm vitória garantida em primeiro turno se conquistarem mais de 45 por cento dos votos.
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