Cristina Kirchner durante visita a Santiago, Chile: oposição acusa presidente de buscar voto com assistencialismo| Foto: Martin Bernetti/AFP

Ofensiva

Projeto de nova lei eleitoral recebe críticas

Da Redação com agências

O projeto de lei que redefine as regras eleitorais do país, encaminhado na quarta-feira pela presidente Cristina Kirchner ao Congresso, já recebeu as primeiras críticas. Setores da oposição vislumbram na iniciativa o propósito de pavimentar a candidatura do ex-presidente e marido de Cristina, Néstor Kirchner, à eleição presidencial de 2011.

Durante a semana, viam-se no centro de Buenos Aires cartazes com a inscrição "Kirchner 2011’’, assinados por associações civis alinhadas ao kirchnerismo. O ex-presidente enfrenta dissidências internas em seu partido, o peronista PJ, pelo qual diversos de seus adversários almejam candidatar-se à Presidência.

O projeto de lei de Cristina impõe eleições primárias abertas – todo o eleitorado é obrigado a votar – para definir os candidatos a presidente, a deputado federal e a senador. As primárias devem ser simultâneas para todas as siglas. Mudam também as regras de financiamento às campanhas eleitorais.

A propaganda eleitoral na tevê passa a ser gratuita, com veto à compra de espaços publicitários por partidos e candidatos. A distribuição do tempo na tevê prevê que metade se divida entre todas as siglas. Os outros 50 % distribuem-se proporcionalmente à votação das siglas na eleição anterior.

A Argentina possui hoje 33 partidos de abrangência nacional. Ao apresentar o projeto, Cristina afirmou que "em épocas absolutamente midiáticas, quem conta com mais fundos e recursos tem maiores possibilidades. A lei tem o objetivo de garantir igualdade no espaço dos meios audiovisuais’’.

O governo pretende que a votação do projeto ocorra antes que o Congresso passe a ter maioria opositora, em dezembro, com a posse dos legisladores eleitos em junho passado.

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Buenos Aires - Com baixos índices de aprovação entre a classe média, o governo da Argentina lançou ontem um pacote assistencial de 9,9 bi­­lhões de pesos (US$ 2,6 bilhões) direcionado a crianças e adolescentes cujos pais estejam desempregados ou no mercado informal de trabalho.

Com a medida, a presidente Cristina Kirchner reforça o elo com os setores mais pobres da sociedade, entre os quais o respaldo ao governo é maior. Esti­­ma-se que 4 milhões de crianças e adolescentes estejam aptos a receber o benefício.

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Os pais terão direito a 180 pes­­os mensais (US$ 47) por filho me­­nor de 18 anos ou portador de deficiência, até um máximo de cinco dependentes. Nos moldes do Bolsa Família brasileiro, o pa­­gamento do benefício será condicionado ao cumprimento da cartela de vacinação e da matrícula escolar.

A oposição classificou a iniciativa como clientelista e de servir ao suposto objetivo do casal Kirchner – Cristina e seu marido e ex-presidente, Néstor Kirch­­ner (2003-2007) – de vencer a eleição presidencial de 2011.

A fonte de financiamento do programa também foi questionada – os recursos dos fundos de previdência privada obrigatória, estatizados em 2008 sob fortes críticas da oposição. Incorpo­­rados ao caixa estatal, os recursos vem financiando anúncios do governo.

Embora o anúncio tenha sido criticado pela oposição, iniciativas como a anunciada ontem vinham sendo reivindicadas por lideranças avessas ao kirchnerismo e pela Igreja Católica, que cunhou a expressão "escândalo da pobreza’’ para definir a situação do país.

Na quarta-feira, quando Cris­­tina enviou ao Congresso um projeto de reforma política, ad­­versários políticos disseram que havia problemas mais ur­­gentes no país, como a atenção a crianças e a adolescentes pobres.

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Cristina pediu ontem a "co­­laboração de todos, sem desafios, insultos ou desqualificação, mas com ideias que possam ser postas em prática’’ pa­­ra "melhorar a distribuição de renda na Argen­­tina’’.

O programa assistencial lançado ontem é o segundo grande investimento que Cristina anun­­cia, em menos de três me­­ses, pa­­ra a erradicação da pobreza. De­­fine a ação como uma resposta ao neoliberalismo da era Car­­los Menem (1989-1999). Em agosto, anunciou o investimento de US$ 400 milhões na geração de 100 mil empregos.