Cristina Kirchner (direita) aponta documentos da investigação sobre a venda da principal indústria de papel jornal do país| Foto: Marcos Brindicci/Reuters

Buenos Aires - O governo da presidente argentina, Cristina Kirchner, anunciou ontem que pretende declarar a produção de papel jornal como "de interesse público’’ e nacionalizar essa indústria no país. O anún­­cio é mais um capítulo da guerra entre a Casa Rosada e a imprensa, que já dura meses.

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O alvo é a Papel Prensa, empresa que produz 75% do papel jornal consumido no país. Colateral­­mente, atinge os jornais Clarín e La Nación, que detêm, respectivamente 49% e 27,46% da empresa. Os outros 27,46% são do Estado argentino.

Não será uma expropriação em moldes chavistas, mas a exigência de que a produção seja toda rea­­lizada na Argentina.

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Com o gesto, a presidente pretende aumentar o controle sobre uma indústria vital para seus opo­­sitores na imprensa.

Em evento ontem na sede de governo, Cristina acusou os dois jornais de usarem a empresa co­­mo meio de impor seu monopólio no país.

A presidente mostrou uma manchete do jornal Clarín segundo a qual "Quem controla a Papel Prensa controla o mundo escrito’’.

"A Papel Prensa é a única companhia que produz papel jornal no país e é um monopólio: decide para quem vende, quanto vende e por que preço’’, disse a presidente. "Portanto, é verdade que quem a controla, controla a palavra es­­crita na República Argentina.’’

Cristina afirmou ainda que pretende denunciar os donos dos dois jornais por crimes contra a humanidade supostamente vinculados à negociação da empresa Papel Prensa.

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Segundo a imprensa local, o objetivo do governo é usar a ofensiva judicial para anular a negociação da década de 70 e excluir os dois impressos da direção da fábrica.

Em relatório apresentado on­­tem, ela acusa os jornais de terem comprado sua parte da empresa,em 1976, com o ajuda do último re­­gime militar argentino (1976-83).

Conforme o governo, os membros da família Graiver – antigos sócios majoritários da Papel Pren­­sa – eram pressionados pelos mi­­litares na época em que transferiram suas ações.

Segundo a representante do Es­­tado na empresa, Beatriz Pa­­glieri, o consórcio formado por Clarín, La Nación e La Razón (este último extinto) se aproveitou da fragilidade da família para comprar as ações. "Documentos e depoimentos confirmam que eles [Graiver] não puderam expressar sua vontade no momento da venda’’, afirma Paglieri.

O depoimento mais polêmico do caso é o da matriarca da família Graiver, Lidia Papaleo, que afirma ter sido pressionada por executivos do Clarín para assinar, na época, o contrato de venda.

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Em editoriais ontem, o Clarín e o La Nación afirmaram que o governo está "inventando uma história’’ para se apropriar da Pa­­pel Prensa e, assim, aumentar seu controle sobre os meios de comunicação.

Atualmente, cerca de 170 jornais do país compram o papel da empresa.