Buenos Aires - O governo argentino recuou ontem de um ponto-chave de seu polêmico projeto de Lei de Serviços Audiovisuais, em discussão no Congresso. A presidente Cristina Kirchner anunciou em entrevista coletiva que eliminará do texto a autorização às companhias telefônicas para entrar no negócio de tevê a cabo e oferecer o "triple play (telefone, internet e cabo), um mercado de estimados US$ 6 bilhões ao ano.
Cristina disse que essa volta atrás irá "dissipar as dúvidas sinceras que legisladores possam ter tido e eliminar as desculpas que outros utilizavam (para se opor ao projeto).
A entrada das companhias telefônicas no negócio audiovisual feria os interesses do Grupo Clarín, o maior conglomerado de mídia argentino, que hoje é líder absoluto no mercado da tevê a cabo.
Na quinta passada, uma blitz da Receita Federal na sede do diário Clarín e em residências de diretores do grupo foi vista como uma tentativa do governo de intimidar um jornal opositor e enfraqueceu sua base de apoio ao projeto. O governo Cristina negou responsabilidade na blitz e disse que ela foi uma operação montada por "terceiros para fragilizar a posição da Casa Rosada na discussão da lei de mídia.
"A objeção fundamental que escutei é que estaríamos substituindo um monopólio (do Grupo Clarín) por outro, com a inclusão das telefônicas na nova lei de mídia, disse ontem a presidente. "Creio que tivemos um formidável avanço, porque admitimos que evidentemente há um monopólio na Argentina e que então não se pode substituí-lo por outro, arrematou.
O Clarín contestou em sua edição de domingo a avaliação do governo de que detém um monopólio. O jornal apresentou porcentagens comparativas de propriedade de veículos impressos, rádios e tevês e suas respectivas parcelas de audiência e afirmou que o grupo "é líder num mercado plural e competitivo.
Cristina afirmou que seu propósito com o projeto "é essencialmente dotar a sociedade argentina de um instrumento legal que possa permitir que se escutem as vozes de todos e se desmonopolize esse setor.