Ouça este conteúdo
Os candidatos democratas subiram no palco de debate nesta terça-feira (25) pela última vez antes da Super Terça, quando 40% do eleitorado dirá quem deseja ver como candidato presidencial. O eleitor que ligou a televisão para tomar sua decisão antes das prévias assistiu candidatos com tom combativo, falas sobrepostas - que muitas vezes impediam que o espectador acompanhasse a discussão - e uma enxurrada de críticas ao favorito nas pesquisas de opinião, o senador Bernie Sanders.
"Se passarmos os próximos quatro meses despedaçando o nosso partido, vamos assistir Donald Trump pelos próximos quatro anos despedaçando nosso país", disse a senadora Amy Klobuchar, ainda no primeiro bloco, quando uma série de ataques já havia sido disparada de todos os lados.
O Partido Democrata define oficialmente em julho, na convenção nacional do partido, em Wisconsin, o nomeado para disputar contra Trump, que, dos 87 delegados republicanos designados até o momento, conquistou 86. Quanto antes os democratas forem capazes de indicar o nome favorito ao posto, melhor será para unificar a mensagem ao eleitorado. Mas o debate desta terça mostrou que os democratas estão longe de chegar a um discurso conciliatório.
Bernie Sanders se apresentou como o nome apto a construir a maior coalizão entre o eleitorado e única força capaz de conduzir um democrata à Casa Branca, mas voltou a ser lembrado por seus adversários como um nome polarizador e cujas ideias não são realizáveis.
No arsenal contra o senador de Vermont, o ex-vice-presidente dos EUA Joe Biden criticou o fato de o senador ter votado em 2005 por uma lei que protege as empresas de armas de processos judiciais, quando os produtos são usados em crimes. A legislação aprovada no Congresso foi assinada pelo então presidente, George W. Bush, com apoio da NRA, a Associação Nacional do Rifle. O senador também já votou, em 1993, contra uma lei nacional que estabelecia mecanismos de controle sobre quem pode possuir arma - o que nos EUA é chamado de "background checks".
Em sua defesa, Sanders afirmou que "maus votos" acontecem. Ele sabia que seria o alvo favorito da noite e conseguiu sobreviver bem aos ataques. Tudo indica que o apoio à sua candidatura não vai diminuir por causa do seu desempenho no debate desta terça.
Percepção do público
A CBS, rede de televisão que organizou e transmitiu o debate desta terça, perguntou aos eleitores que assistiram qual candidato mais os impressionou após o debate. O cenário é dividido entre Sanders e Biden, que tiveram 45% e 43% das respostas a seu favor. Na sequência vêm Warren (40%), Buttigieg (38%) e Klobuchar (31%). Michael Bloomberg impressionou 25% dos espectadores - à frente apenas de Tom Steyer, outro bilionário, que tem aparecido com 2% das intenções de voto.
A fratura entre alas moderada e progressista do partido foi oficializada nas prévias de Iowa, no início do mês. Os ataques a Sanders no debate desta terça demonstram que os democratas ainda estão distantes de uma sonhada unidade vista como necessária para enfrentar a dura disputa contra Trump.
Espera pelas próximas primárias
Esta terça foi provavelmente a última vez que todos os sete candidatos se apresentaram ao público, já que a continuidade na corrida eleitoral depende do sucesso nas próximas primárias. As senadoras Amy Klobuchar e Elizabeth Warren, únicas mulheres pré-candidatas, podem ter que pular fora da disputa eleitoral no mês de março se performarem mal.
O ex-vice-presidente Joe Biden também tem a campanha pendurada à espera dos próximos resultados. Ele aposta todas as suas fichas na Carolina do Sul, que realiza primárias no sábado (29) e onde ocorreu o debate. Metade do eleitorado democrata no estado é negro e Biden é o nome preferido dessa parcela do eleitorado. No debate, ele fez uma série de acenos aos negros, como a promessa de indicar uma mulher negra para a Suprema Corte dos EUA.
As pesquisas de intenção de voto mostravam o democrata com ampla margem sobre os demais no estado e, especialmente, sobre Pete Buttigieg, que teve uma boa largada em Iowa e tenta se credenciar como o nome da ala moderada do partido democrata. Biden luta para mostrar, na Carolina do Sul, que o é o escolhido do espectro centrista e rivalizar com Bernie Sanders até a convenção partidária. O ex-vice-presidente herda o legado da gestão Obama e a simpatia dos eleitores negros, apesar de não ter recebido um endosso público do ex-presidente até agora.
Buttigieg tem sido um dos que vocaliza a crítica à coalizão de Bernie Sanders, ao sugerir que o senador polariza a disputa. Apesar de ter largado bem em Iowa e New Hampshire, Buttigieg viu em Nevada sua limitação em um eleitorado menos branco e mais diverso. Para conseguir a nomeação do partido, ele precisaria mostrar que é capaz de levar consigo o apoio de latinos e negros, o que não tem acontecido até agora.
As polêmicas de Sanders
Temas de política externa têm passado ao largo nesta campanha eleitoral, mas tiveram destaque no último bloco do debate. Bernie Sanders chamou Binyamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel e aliado dos EUA, de um "reacionário racista".
Em resposta, o ministro das Relações Exteriores de Israel, Yisrael Katz, chamou de "comentário horrível" a declaração do candidato esquerdista, dizendo que aqueles que apoiam Israel não apoiariam a candidatura presidencial de Sanders após tais comentários.
Sanders também foi criticado por ter elogiado o programa de alfabetização de Cuba. No domingo, em um programa da CBS, Sanders elogiou o projeto educacional do cubano Fidel Castro despertaram a última onda de críticas. O senador saudou o "massivo programa de alfabetização" do ditador comunista, para em seguida condenar a natureza autoritária do regime.
"Quando Fidel Castro assumiu o cargo, você sabe o que ele fez? Ele tinha um programa massivo de alfabetização. Isso é uma coisa ruim? Mesmo que Fidel Castro tenha feito isso?", questionou Sanders.
O comentário foi amplamente repreendido por cubano-americanos, democratas da Flórida e vários oponentes de Sanders. "Estou totalmente enojada e insultada", disse Lourdes Diaz, presidente do Conselho Democrático de Hispânicos no Condado de Broward, na Flórida. "Talvez isso abra os olhos das pessoas para quão super, super progressista e radical Bernie é. Não vou mais defendê-lo", afirmou ao New York Times.
Cinco ex-presos políticos cubanos publicaram uma carta em que lamentam o "elogio a um tirano". "Sanders mente ou ignora o que ocorre em Cuba", escreveu o grupo, que ainda acusou o senador de ser arrogante demais para pedir desculpa.
"Ensinar as pessoas a ler e escrever é uma coisa boa", respondeu Sanders. No debate, ele ainda rebateu as críticas de seus adversários dizendo que repetia palavras de Barack Obama. Simultaneamente, sua equipe publicou no Twitter um vídeo no qual Obama afirma ter elogiado diretamente a Fidel Castro e o progresso educacional em Cuba.
Sanders também exaltou a China por ter tirado da pobreza extrema "mais pessoas que qualquer outro país", apesar de, segundo ele, ter um governo autoritário.
Conteúdo editado por: Isabella Mayer de Moura