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Mídia

Críticos do governo, principais jornais noticiam morte com sobriedade

Buenos Aires - Apesar dos constantes embates entre a imprensa e o governo de Cristina Kirchner, a mídia argentina adotou um tom sóbrio ao noticiar a morte de Néstor Kirchner.

Considerado o político mais poderoso do país, o ex-presidente é tido como "mentor'' das recentes medidas do governo de sua mulher e sucessora contra, principalmente, o Grupo Clarín – que edita o jornal de mesmo nome – e o diário La Nación.

O embate começou em 2008, quando os veículos foram acusados de fazer cobertura crítica ao governo quando ruralistas causaram um locaute devido ao aumento de impostos de exportação.

Outro choque ocorreu nas eleições legislativas de 2009, quando Kirchner atribuiu sua derrota ao Senado à imprensa monopólica.

O Clarín dedicou hoje 32 de um total de 156 páginas à morte, com a manchete de capa: "Kirchner, marcou uma época''.

Reportagens mostraram a trajetória do ex-presidente, desde líder estudantil até o período pós-Presidência, e o que sua morte representa para a política argentina.

Em artigo, o editor-geral do Clarín, Ricardo Kirschbaum, escreveu que Kirchner sempre foi um homem inclinado à acumulação "de poder, de aliados, de afetos, de dinheiro''.

"Acertou quando renovou a Corte [Suprema], renegociou a dívida externa e devolveu o poder ao Estado, ainda que não tenha aproveitado um momento excepcional para plantar e levar adiante questões estruturais que poderiam ter começado a modificar as questões básicas da economia argentina.''

Outro artigo, intitulado "Poder e dinheiro, ferramentas e também obsessões de Kirchner'', adota um tom mais crítico. Diz que o ex-presidente sabia de "plata'' (dinheiro) "mais do que qualquer outro presidente''.

"Sabia acumulá-la, reproduzi-la e administrá-la. E sobretudo soube fazer política com ela.''

"Morreu Néstor Kirchner: perplexidade e comoção em todo o país'' foi a manchete do "La Nación'', que dedicou 17 das 94 páginas da edição de ontem ao ex-presidente.

Na seção "Avisos Fúnebres'', o jornal publicou 195 textos de amigos, funcionários, empresários, dirigentes políticos, associações profissionais e instituições'', "expressando a dor pela perda do ex-presidente''.

Tevê

As principais emissoras de tevê argentinas – como Trece, Telefé, América e a Televisión Pública – interromperam sua programação normal para transmitir o velório, ao vivo, durante todo o dia.

Nos canais do Grupo Clarín, os jornalistas envolvidos na cobertura reiteravam a todo o momento que estavam consternados e se sentiam mal com a notícia da morte de Kirchner, que até então era alvo de críticas diárias nos mesmos telejornais.

O enfrentamento entre o conglomerado e o governo gerou, entre outras medidas, a nova lei dos meios de comunicação no país, que obrigaria o gigante da mídia a vender diversos negócios.

Ontem, um dia após sua morte, as ações do conglomerado de comunicações subiram 40,85% na Bolsa de Valores de Buenos Aires.

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