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A Croácia será o 20º membro da zona do euro a partir de janeiro de 2023. A aprovação da entrada do país foi concluída pela União Europeia no último dia 12. O país tem, então, os próximos meses para se preparar para a conversão que terá como taxa de conversão um euro para 7,53450 kunas croatas em 1º de janeiro.
Entre vantagens e desvantagens dessa mudança, o país deverá perder autonomia em sua política econômica e ganhar a estabilidade e a credibilidade de uma das moedas mais importantes do sistema financeiro mundial. Para o euro, receber mais um país é reforçar a importância da moeda em um importante cenário geopolítico.
Vantagens: controla a inflação e incentiva o turismo
Apesar da atual desvalorização do euro por causa do desabastecimento de gás, da guerra na Ucrânia e da crise econômica mundial, o euro ainda é um bom negócio, conforme conclui o economista e internacionalista Igor Lucena. “A tendência agora é de expansão das exportações europeias”, destaca.
Além disso, nos últimos 20 anos, o euro tem sido a segunda moeda mais transacionada e a segunda mais utilizada como meio de reserva internacional. "A Croácia se tornar o vigésimo país a aderir à moeda significa que o euro continua sendo atraente, resiliente e bem sucedido”, ressalta Lucena.
Países como Itália, Portugal e Espanha, que possuíam uma inflação estrutural, ao entrarem na zona do euro tiveram uma retração histórica dos índices inflacionários.
“Os países da zona do euro tendem a ter uma convergência das taxas de inflação, ainda que sejam processos mais a longo prazo”, explica Marcelo Curado, professor de Economia da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Além disso, entrar na zona do euro contribui para o setor de turismo, do qual o país é dependente e que está em crescimento na região. “Para uma economia pequena como a da Croácia, que depende do turismo e que tem visto crescer o fluxo turístico, pode ser bastante benéfico. Vai facilitar o movimento de turistas para o país”, aponta o professor.
Desvantagens: impede autonomia
Para ganhar essa estabilidade do euro, no entanto, a Croácia abre mão da sua autonomia na política econômica. “Quando o país está com um nível de atividade econômica muito baixo, um caminho é reduzir a taxa de juros, para aumentar essa atividade. Mas quando você está numa comunidade monetária você não pode fazer isso. Delega-se ao Banco Central Europeu a execução da política monetária, então você fica mais rígido e perde instrumentos de política econômica”, ressalta Curado.
Ainda segundo o professor, o maior risco para a Croácia dentro do euro seria diante de uma grande valorização da moeda, caso a produtividade local não crescesse na mesma velocidade. “O país poderia ficar muito caro para os próprios croatas”, conclui.
Conforme aponta João Alfredo Nyegray, coordenador de Comércio Exterior e professor de Negócios Internacionais e Geopolítica na Universidade Positivo, uma série de países tiveram problemas ao entrar na zona do euro, pois suas instituições econômico-financeiras não eram fortes o suficiente para o alinhamento com a União Europeia.
“Foi o caso da Grécia que, com a crise de 2008, acabou causando uma desvalorização da moeda. Os gregos acabaram mais prejudicados do que os outros países do bloco naquela ocasião”, lembra Nyegray.
Alinhamento com o bloco
O professor reforça que, após esse episódio, mecanismos de controle e supervisão foram criados na zona do euro. Dessa forma, a aprovação da Croácia revela que o país está de acordo com os padrões estipulados pelos vizinhos europeus de estabilidade de preços e na taxa de câmbio, finanças públicas sólidas e taxas de juros de longo prazo.
“Hoje, os croatas possuem uma legislação e uma economia compatíveis com os padrões da União Europeia. Trata-se de um país com estabilidade de preços e déficit fiscal controlado”, destaca.
Apesar de pequena, a economia croata é aberta e está em 79º lugar no Índice de Liberdade Econômica do Heritage Foundation (no mesmo ranking, o Brasil está em 143º).
O país que fica no sudeste da Europa é independente da Iugoslávia desde 1991 e entrou na UE em 2013. A vizinha Eslovênia, também uma ex-República iugoslava, adotou o euro em 2007.
Com a entrada da Croácia, dos 27 países da União Europeia, apenas Bulgária, Polônia, Romênia, Hungria, República Tcheca e Suécia não adotaram a moeda.
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